A colonização do Brasil se deu dentro do contexto da política
mercantilista do século XVI que via no comércio a principal forma de
acumulação de capital, garantido, principalmente, através da posse de
colônias e de metais preciosos.
Além de desbravar, explorar e povoar novas terras os colonizadores tinham
também uma justificativa ideológica: a expansão da fé cristã. "Explorava-se
em nome de Deus e do lucro, como disse um mercador italiano" (AMADO, GARCIA,
1989, p.09). A preocupação em catequizar as populações encontradas foi
constante.
A colônia brasileira, administrada política e economicamente pela metrópole,
tinha como função fornecer produtos tropicais e/ou metais preciosos e
consumir produtos metropolitanos. Portugal, então, iniciou a colonização
pela costa privilegiando a cana de açúcar como principal produto de
exportação.
Enquanto os colonizadores portugueses se concentravam no litoral, no século
XVII ingleses, franceses e holandeses conquistavam a região norte brasileira
estabelecendo colônias que servissem de base para posterior exploração do
interior do Brasil. Os franceses, depois de devidamente instalados no forte
de São Luís na costa maranhense, iniciam a exploração dos sertões do
Tocantins. Coube a eles a descoberta do Rio Tocantins pela foz no ano de
1610 (RODRIGUES, 2001).
O rio Tocantins foi um dos caminhos para o conhecimento e exploração da
região onde hoje se localiza o Estado do Tocantins. Nasce no Planalto
Central de Goiás e corta, no sentido sul-norte, todo o território do atual
Estado do Tocantins.
Só mais de quinze anos depois dos franceses foi que os portugueses iniciaram
a colonização da região pela "decidida ação dos jesuítas". E ainda no século
XVII os padres da Companhia de Jesus fundaram as aldeias missionárias da
Palma (Paranã) e do Duro (Dianópolis) (SECOM, 1998).
Diversas expedições "entradas", "descidas" e "bandeiras" percorreram a
região. Estas expedições eram de caráter oficial destinadas a explorar o
interior e buscar riquezas minerais ou de particulares organizadas para a
captura de índios.
De Belém partiam expedições de exploradores e jesuítas pelo rio Amazonas
chegando até os rios Tocantins e Araguaia.
Dos sertões da Bahia, Pernambuco e Piauí, seguindo os cursos dos rios, se
expandiam para a região as fazendas de gado. De São Paulo saíam as bandeiras
em canoas pelos rios Paranaíba-Tocantins-Araguaia até voltarem pelo Tietê a
São Paulo. "Naquele tempo, uma dessas viagens podia demorar-se dois ou três
anos" (PALACIN, 1989, p.06). Mais tarde depois de 1630 introduziu-se o uso
de mulas e as bandeiras preferiram a viagem por terra.
Jesuítas, criadores de gado e bandeirantes, foram os desbravadores da região
ainda no século XVII. Poucos contribuíram, na época, para o seu povoamento,
muito para a sua posterior exploração.
Até o início do século XVIII, a força motivadora para a exploração da região
foi predominantemente o índio. Os bandeirantes aproveitando a extinção
destes nos grandes centros colonizadores da costa - Pernambuco, Bahia, Rio
de Janeiro - e a dificuldade de importação, em certos períodos, de negros da
África, transformaram a sua captura num lucrativo negócio para atender a
demanda de mão-de-obra na lavoura. Como subproduto destas expedições os
bandeirantes retornavam, algumas vezes, com pequenas quantidades de ouro de
aluvião dos rios, principalmente do Araguaia, contribuindo para despertar
lendas sobre o metal. Como os bandeirantes, os jesuítas também iam à busca
de índios. Como eles, tampouco se fixaram no território. Procuraram tão só
"descer" as tribos para suas aldeias no Pará (PALACIN, 1979, pp. 15-16).
Destes desbravadores, somente os criadores de gado vieram com a intenção de
se fixar na região. A criação de gado antecedeu a mineração. "Quando na
terceira década do século XVIII acontecia a descoberta de ouro no Sul do
Tocantins, a região já detinha um extenso corredor de picadas para os
caminhos de gado entre Piauí, Maranhão e as ribeiras do rio São Francisco"
(SILVA, 1997, p. 25). Os currais de gado deram origem aos primeiros núcleos
coloniais "quando a região é sacudida com a febre do ouro de aluvião",
completa Silva.
Só no final do século XVII e início do século XVIII que bandeirantes com
objetivo de descobrir metais nobres tiveram a preocupação em fixar núcleos
estáveis no interior do Brasil. Mas a ocupação econômica e o povoamento
efetivo só se dariam a partir da segunda década do século XVIII com base na
exploração do ouro dentro do contexto da política mercantilista. Com a
exploração e ocupação da região se deu simultaneamente a destruição dos
povos indígenas, seus primeiros habitantes.
Fugindo da ação depredadora da colonização do litoral muitos grupos
indígenas migraram para o interior do Brasil. Nos séculos XVII e XVIII o
avanço da colonização foi marcado por três fases: "Na primeira, na época dos
bandeirantes os índios foram atraídos amistosamente e contribuíram bastante
para a localização das minas. Na segunda fase, como os brancos já não
dependiam dos nativos para chegarem às minas houve conflitos armados, pois
era intenção do branco limpar as áreas a serem exploradas. Posteriormente ,
a partir da segunda metade do século XVIII tiveram vez os aldeamentos como
uma tentativa de os brancos de resolver o problema da mão-de- obra e do
povoamento daquelas regiões com baixa densidade populacional" (PARENTE,
1999, p.69). E este avanço impôs, quase sempre, aos índios um destino
trágico: a fuga, a migração, o aldeamento, a escravidão ou o extermínio por
doenças, guerras, desapropriação, tristeza, suicídio, etc. Poucos
sobreviveram.
Vivem atualmente no Estado do Tocantins os Xerente (Povo Akwen), os Karajá,
Javaé, Xambioá (Povo Iny), os Apinajé (Povo Panhi) e os Krahô (Povo Meri).
Os Apinajé estão localizados nos municípios de Tocantinópolis, Maurilândia e
Cachoeirinha; os Krahô nos municípios de Itacajá e Goiatins; os Xerente
próximos ao município de Tocantínia; e os Karajá e Javaé na Ilha do Bananal
e os Xambioá no município de mesmo nome (BARROSO, 1999). |