O antigo lugar da
Ribeira d’Atouguia,
na foz desse rio,
constituía-se num
dos mais importantes
portos portugueses
da
Idade Média, e
em ponto-chave para
acesso aos
principais centros
do país (Leiria,
Óbidos,
Santarém,
Torres Vedras e
Lisboa), nessa
qualidade tendo
estado envolvida em
diversos episódios
da
História de Portugal.
A ação das correntes
marítimas e dos
ventos, com o passar
dos séculos, levou
ao
assoreamento
desse curso de água,
vindo as areias a
formar,
progressivamente, um
cordão de
dunas que,
consolidando-se,
uniu a ilha de
Peniche ao
continente, fazendo
desaparecer o porto
de Atouguia.
Alvo constante de
ataques de
corsários
ingleses,
franceses e
argelinos, o rei
D. Manuel I
(1495-1521)
encarregou o Conde
de
Atouguia da
elaboração de um
plano para a defesa
daquele trecho do
litoral, que foi
apresentado ao seu
sucessor, o rei
D. João III
(1521-1557).
Os trabalhos
foram iniciados pela
construção, em
1557, do chamado
castelo da vila,
estrutura
abaluartada
concluído por volta
de
1570, ao tempo
do reinado de
D. Sebastião
(1557-1578).
Durante a
Dinastia Filipina,
foi em
Peniche que as
tropas inglesas,
cedidas por
Isabel I de
Inglaterra, sob
o comando de D.
António,
Prior do Crato,
iniciaram a sua
marcha sobre
Lisboa (Julho de
1589), na
tentativa,
infrutífera, de
restaurar a
soberania
portuguesa.
Ainda nesse
contexto, a povoação
pesqueira foi
elevada a vila (1609)
tendo sido
promovidos pequenos
reparos nas suas
muralhas.
A Guerra da
Restauração e a
fortificação
abaluartada
Ao se iniciar a
Guerra de
Restauração da
independência, o
Conde D.
Jerônimo de Ataíde
prosseguiu as obras
de fortificação de
Peniche, sob
projectos do
engenheiro militar
francês
Nicolau de Langres
e, posteriormente,
do português
João Tomaz Correia.
Esta fortificação
era coadjuvada pelo
Forte da Consolação
e pelo
Forte de São João
Baptista das
Berlengas,
integrando um
extenso sistema
defensivo que,
entretanto,
revelou-se débil no
contexto da
Guerra Peninsular,
diante da invasão
napoleônica de
1807 (sob o
comando de
Junot), quando
entre o final desse
ano e Agosto de
1808, permaneceu
ocupada por tropas
francesas. Na
ocasião foram
procedidos reparos
nas suas defesas
pelos invasores,
que, entretanto,
picaram as armas de
Portugal sobre o
portão principal.
Ocupada por tropas
inglesas sob o
comando de
Lord Beresford,
foram executados
novos reparos nas
defesas, o mesmo se
repetindo sob o
reinado de D.
Miguel, que
culminaram na
ampliação do
perímetro defensivo.
A fortificação
teria, entretanto,
uma débil atuação
durante as
Guerras Liberais.
Em
1836, a
Praça-forte viveu
dois eventos
funestos: o incêndio
que destruiu
completamente o
chamado Palácio
do Governador
(que não voltaria a
ser recuperado) e a
explosão da
pólvora
armazenada em um dos
paióis.
Neste século,
diante da
progressiva perda da
sua função
defensiva, as suas
instalações passaram
a ser utilizadas
como prisão (época
das Invasões
Napoleônicas) e
posteriormente, como
prisão política
(época das Guerras
Liberais, quer para
liberais, quer para
absolutistas).
Do século XX aos
nossos dias
No alvorecer do
século XX, foi
utilizada como
abrigo para os
bôeres que se
asilaram na então
colônia portuguesa
de
Moçambique após
a vitória inglesa na
África do Sul. À
época da
I Guerra Mundial
(1914-18), nela
estiveram detidos
alemães,
convertendo-se,
durante o
Estado Novo
português (1930-74),
em prisão política
de segurança máxima.
A
3 de Janeiro de
1960 foi palco
da espetacular
fuga do Forte de
Peniche,
protagonizada por
Álvaro Cunhal,
Joaquim Gomes,
Carlos Costa, Jaime
Serra, Francisco
Miguel, José Carlos,
Guilherme Carvalho,
Pedro Soares,
Rogério de Carvalho
e Francisco Martins
Rodrigues.
Em
25 de Abril de
1974, ao eclodir
a
Revolução dos Cravos,
foi um dos
pontos-chave dos
revolucionários,
passando a ser
utilizada como
abrigo para os
retornados dos
ex-territórios
ultramarinos
portugueses na
África quando do
processo de
descolonização.
A partir de
1984 o espaço
das suas
dependências passou
a ser utilizado como
Museu Municipal,
exibindo material
arqueológico,
histórico e
etnográfico,
destacando-se o
chamado Núcleo da
Resistência, a
reconstituição do
ambiente de uma
prisão política do
Estado Novo.
O
Forte da Consolação
encontra-se
atualmente
abandonado e em
precário estado de
conservação, sendo
particularmente
preocupante o estado
das suas arribas, em
processo de
derrocada por acção
da erosão
marinha.
No ano de
2006 as
dependências da
fortaleza serviram
como cenário para a
dramatização do
desembarque inglês
de
1589, visando
repor a verdade
histórica sobre a
popular expressão
"os amigos de
Peniche".
Característica
A Praça-forte é
constituída por uma
série de obras
defensivas com
estrutura
abaluartada, no
formato de um
polígono irregular
estrelado, adaptado
ao terreno. O
perímetro amuralhado
abrange uma área de
cerca de dois
hectares, nele se
inscrevendo quatro
portas - a das
Cabanas, a
Nova, a da
Ponta e a de
Peniche de Cima.
O conjunto da
fortificação
divide-se em dois
grandes setores:
-
a norte,
Peniche de Cima,
dominado pelo
Forte da Luz.
No formato
poligonal com
baluartes nos
vértices
coroados por
guaritas
circulares,
apresenta as
canhoneiras no
terrapleno, pelo
lado do mar.
Pelo lado de
terra,
protegendo o
portão
monumental,
ergue-se um
revelim
triangular.
-
a sul,
Peniche de Baixo,
constituindo-se
na Cidadela.
Pelo lado do
Campo da Torre,
um revelim
protege a
entrada e a
cortina da
Cidadela,
cuja defesa é
complementada
por um fosso.
Cortinas e
fossos
adicionais
protegiam o
setor oeste, bem
como diversas
canhoneiras,
caminhos
cobertos e
esplanadas.
Outras duas
cortinas a norte
e os
baluartes a
leste e a oeste
são acompanhados
por várias
construções de
planta
rectangular e
pelas famosas
prisões,
dominadas por
uma torre de
vigia.
Ligações
externas