LISBOA CRONOLOGIA ATÉ AO SÉC. XVIII Séc. VII
- II a.C. - Formação e desenvolvimento do primeiro núcleo pré-romano.
Séc. II a.C. - início da romanização. c. 60 a.C. - estabelecimento da
colónia romana Felicitas Julia. Séc. V - início da ocupação sueva e
visigótica. 719 - 1147 - período muçulmano. 1147 - reconquista cristã
e integração no reino de Portugal. 1170 - doação de foral aos mouros
forros. 1179 - primeiro foral da cidade. c. 1256 - passagem a capital do
reino. 1290 - fundação da Universidade. 1294 - construção da nova
muralha ribeirinha e das Tercenas. Séc. XIII - obras de consolidação e
urbanização da Baixa, reorganização das paróquias e instalação de
conventos no centro e nas colinas (S. Domingos, Santo Elói, S. Francisco,
Espírito Santo, Trindade e Agostinhos). 1373-75 - construção da nova
muralha ou Cerca Fernandina, protegendo toda a cidade entre Alfama e os
Mártires, o Rossio e o Tejo. 1395 - organização das actividades
comerciais através do arruamento dos mesteres. c. 1401 - urbanização da
Vila Nova do Olival ao Carmo. 1425 - População: c. de 65.000 habitantes
distribuídos por 23 paróquias (freguesias). 1492 - início da
construção do Hospital Real de Todos os Santos. 1496 - extinção das
judiarias e das mourarias. Séc. XV - organização e partida das grandes
armadas no âmbito da Expansão e dos Descobrimentos; desenvolvimento de
equipamentos portuários; significativo aumento da população;
projecção da burguesia mercantil. 1499 - fundação do Mosteiro dos
Jerónimos (Arqº Boitaca) 1500 - início das obras do Paço da Ribeira.
1509 - fundação da Igreja da Madre de Deus a Xabregas. 1513 - início do
loteamento do Bairro Alto (Vila Nova de Andrade). 1515-21 - construção
da Torre de Belém inserida no conjunto defensivo da barra do Tejo (Arqº
Francisco de Arruda). 1531 - grande terramoto seguido de reconstrução da
cidade com modernização dos principais edifícios. 1569 - a cidade tem
c. de 100.000 habitantes distribuídos por 24 paróquias. 1571 - Francisco
de Holanda escreve "Da Fábrica que falece à cidade de Lisboa"
com críticas e propostas para uma nova imagem da cidade. 1580 - início
do período filipino (união ibérica) com consequências negativas para a
dinâmica económica portuguesa no contexto internacional. 1597 - grande
terramoto com destruição das colinas de Santa Catarina e Chagas, dando
origem à urbanização da Bica. Séc. XVI - reorganização e expansão
da frente ribeirinha; instalação de conventos e colégios nas zonas
extra-muros a ocidente (S. Roque, Paulistas, Esperança, Estrelinha,
Inglesinhos, Albertas, Marianos, S. Bento) e a norte (Anunciada, Santa
Marta, Santa Ana, Capuchos, Santo Antão o Novo, Desterro, Penha de
França); urbanização do Bairro Alto até à Cotovia; expansão
urbanística na parte ocidental e consolidação das aldeias ao longo do
caminho para Belém. 1650 - primeira planta topográfica da cidade (Arqº
J. N. Tinoco). 1650-1755 - consolidação das principais aldeias dos
arredores (Mocambo/Madragoa, Restelo/Belém e Carnide/Luz);
reorganização da imagem urbana tradicional através de novos edifícios
(Teatro da Ópera, Chafarizes, Igrejas, Palácios) e de cenografias
(arquitectura efémera); construção dos Paços Reais das Necessidades,
Bemposta e Alcântara e aquisição das quintas reais de Belém;
instalação de novos conventos na cidade e arredores (S. Pedro de
Alcântara, Caetanos, Paulistas, Jesus, Boa Hora, Corpo Santo, Trinas,
Rato, Conceição Nova, Arroios). 1652 - redefenição da área urbana
através de um perímetro de fortificação. 1665 - ligação do Chiado à
Baixa através da Rua Nova do Almada. 1681 - obras de alinhamento em
algumas ruas para circulação de transportes. 1682 - início das obras da
igreja de Santa Engrácia (Arqº João Antunes). 1713-18 - nova planta da
Cidade (Engenheiro Manuel da Maia). 1713-48 - construção do Aqueduto das
Águas Livres (Engenheiros Manuel da Maia e Custódio José Vieira). 1729
- população: c. de 200.000 habitantes. 1755 - a cidade com c. de 250.000
habitantes é devastada por um terramoto, maremoto e incêndio; fundação
da Casa do Risco das Obras Públicas; lançamento do programa pombalino de
reconstrução e publicação de legislação específica. 1756 - grande
incêndio da Patriarcal; apresentação do plano da Baixa e definição do
enquadramento jurídico; apresentação do plano da Baixa (Plano Geral).
1758 - definição do enquadramento jurídico do plano de reconstrução
aprovado. 1764 - início das obras do Passeio Público (Arqº Reinaldo
Manuel) 1770-80 - reorganização de limites administrativos e
levantamento das paróquias. 1774 - inauguração do novo edifício dos
Paços do Concelho (Arqº Reinaldo Manuel). 1775 - inauguração da
estátua equestre de D. José (escultor Machado de Castro). 1779 - obras
da Basílica da Estrela (Arqº Mateus Vicente e Reinaldo Manuel). 1780 -
primeira experiência de iluminação pública a azeite. 1792 - obras do
Teatro de S. Carlos (Arqº José da Costa e Silva). 1796 - fundação da
Real Biblioteca Pública de Lisboa. 1801 - afixação de topónimos nas
ruas. 1802 - início das obras do Palácio da Ajuda (Arquitectos F. Fabri
e José da Costa e Silva). 1807 - transferência da corte para o Brasil no
contexto das Invasões Francesas. 1809 - publicação do "Diário
Lisbonense". 1820 - à data da introdução do liberalismo, a cidade
tem c. de 210.000 habitantes. 1834 - aplicação das reformas liberais e
início da adaptação dos antigos conventos a novas funções. 1835 -
construção do primeiro cemitério público nos Prazeres. 1836 -
instalação da iluminação a gás; fundação da Academia das Belas
Artes. 1840 - obras de embelezamento do Passeio Público ao gosto
romântico. 1843-45 - obras do Teatro Nacional D. Maria II (Arqº F. Lodi);
instalação da Escola Politécnica. 1848 - obras de melhoramento do
Rossio com colocação do pavimento calcetado. 1851 - relançamento do
programa regenerador com objectivos de fomento económico e
desenvolvimento urbanístico. 1852 - ampliação do perímetro urbano
através da estrada de circunvalação. 1856 - inauguração do caminho de
ferro de Lisboa ao Carregado. 1860 - obras de aterro e primeiras propostas
para a resolução do porto. 1863 - construção do matadouro municipal
(Engenheiro Pedro José Pézerat). 1864 - população: 197.000 habitantes;
lançamento da ideia do Plano Geral de Melhoramentos. 1865-80 - novos
Paços do Concelho (Arqº D. Parente da Silva). 1873 - início da
construção de vilas e habitações operárias nas zonas industriais de
Xabregas e Alcântara; conclusão do Arco da Rua Augusta. 1877 -
inauguração do Mercado de Santa Clara (Engenheiro E. A. de Bettencourt).
1879 - destruição do Passeio Público com a abertura da Avenida da
Liberdade; início da expansão para norte com a abertura das Avenidas
Novas. 1881 - inauguração dos mercados da Av. 24 de Julho (Engenheiro
Ressano Garcia) e de S. Bento (Engenheiro E. A. de Bettencourt). 1883 - o
Engenheiro Miguel Pais publica "Melhoramentos de Lisboa". 1885 -
inauguração do Mercado da Praça da Figueira (Engenheiro M. R. Teixeira
e Eggert); inauguração do Elevador da Calçada da Glória (Engenheiro R.
Mesnier) e do edifício da Penitenciária. 1885-86 - a cidade, com 230.000
habitantes, amplia o perímetro urbano a partir da integração dos
antigos concelhos de Olivais e Belém. 1887 - início das obras do porto e
da urbanização dos terrenos marginais. 1887-92 - edifício da estação
do Rossio e Hotel Avenida Palace (Arqº José Luís Monteiro). 1888 -
Plano Geral das Avenidas Novas e dos Bairros de Campo de Ourique e
Estefânia (Engenheiro Ressano Garcia); primeira rede de iluminação
eléctrica; construção do Mercado Geral de Gados (Arqº D. Parente da
Silva, alterações do Arqº M. Faria e Maia). 1890 - a cidade, com
301.000 habitantes, inaugura o caminho de ferro da cintura urbana
(Alcântara e Braço de Prata). 1892 - inauguração da Praça de Touros
do Campo Pequeno (Arqº J. Dias da Silva). 1897 - inauguração do
elevador Município/Biblioteca (Engenheiro R. Mesnier). 1898 -
construção do viaduto do Andaluz. 1901 - aparecimento dos primeiros
eléctricos. 1902 - lançamento do Prémio Valmor; inauguração do
elevador de Santa Justa (Engenheiro R. Mesnier). 1904 - aprovação do
Plano Geral de Melhoramentos. 1905 - inauguração do mercado de
Alcântara (Engenheiro J.A. Soares). 1906 - inauguração da carreira de
eléctricos da Baixa ao Campo Grande; inauguração da Escola Médica de
Lisboa (Arqº J.M. Neponuceno e Leonel Garcia). 1907 - aparecimento dos
primeiros automóveis de aluguer; projecto do Liceu Camões (Arqº V.
Terra). 1908 - projecto da Maternidade Alfredo da Costa (Arqº V. Terra).
1910 - proclamação da República no edifício dos Paços do Concelho;
população: 436.000 habitantes. 1920 - população: 484.664 habitantes.
1924 - projecto do cinema Tivoli (Arqº Raúl Lino). 1925 - projecto do
cinema Capitólio (Arqº Cristino da Silva); construção do edifício dos
Telefones (construtor R. Touzet). 1927 - projecto do Instituto Superior
Técnico (Arqº Pardal Monteiro). 1928 - construção da estação do Cais
do Sodré (Arqº Pardal Monteiro). 1930 - população: 591.939 habitantes.
1930-37 - projectos do cinema Éden (Arqº Cassiano Branco). 1931 -
inauguração da estação Sul-Sueste (Arqº Cotinelli Telmo). 1933 -
início do período do Estado Novo. 1934-36 - construção da Casa da
Moeda (Arqº Jorge Segurado). 1934-38 - construção da Igreja de Nossa
Senhora de Fátima (Arqº Pardal Monteiro). 1936 - projecto do Hotel
Vitória (Arqº Cassiano Branco). 1938 - projecto da Praça do Areeiro (Arqº
Cristino da Silva). 1938-48 - Duarte Pacheco é Presidente da Câmara e
Ministro das Obras Públicas; organização do plano de urbanização por
De Gröer; expropriação de grande parte do território do Concelho. 1940
- população: 694.389 habitantes; realização da Exposição do Mundo
Português, a principal obra de imagem do regime do Estado Novo. 1940-45 -
planos de urbanização de Alvalade e do Restelo (Arqº Faria da Costa).
1942 - terminada a 1ª fase de obras do Parque Florestal de Monsanto (Arqº
Keil do Amaral). 1945 - novo projecto do Parque Eduardo VII (Arqº Keil do
Amaral). 1950 - população: 783.226 habitantes; reorganização da rede
de transportes urbanos; construção do Bairro das Estacas (Arquitectos
Formozinho Sanchez e Rui Atouguia). 1955-60 - Planos de Olivais Norte e
Sul. 1956 - construção do Bloco das Águas Livres (Arquitectos Nuno
Teotónio Pereira e B. Costa Cabral). 1957-61 - obras da cidade
universitária (Arqº Pardal Monteiro). 1959 - lançamento do
metropolitano; reorganização administrativa em 53 freguesias. 1960 -
população: 802.230 habitantes. 1960-69 - construção dos edifícios da
Fundação Calouste Gulbenkian (Arquitectos R. Atouguia, Pedro Cid e
Alberto Pessoa). 1962 - revisão do Plano de Urbanização. 1962-70 -
obras da igreja do Coração de Jesus (Arquitectos Nuno Portas, Pedro
Vieira de Almeida e Nuno Teotónio Pereira). 1965 - Plano de Chelas. 1966
- inauguração da Ponte Salazar. 1967-76 - novo Plano de Urbanização (Arqº
G. Meyer Heine). 1970 - população: 760.150 habitantes. 1974 -
instalação do regime democrático e início do retorno de população
das ex-colónias. 1980-90 - intensificação de programas de
reabilitação dos edifícios e áreas urbanas. 1980-86 - projecto e
implantação do complexo das Amoreiras. 1981 - população: 801.937
habitantes. 1985 - instalação dos primeiros gabinetes técnicos para a
reabilitação urbana dos bairros históricos. 1988 - incêndio do Chiado
seguido do Plano de Reconstrução (Arqº Siza Vieira). 1990 - lançamento
do Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de
Lisboa (PROTAML), do Plano Estratégico e do Novo Plano Director
Municipal. 1991 - população: 659.649 (dados preliminares do
recenseamento). 1992 - aprovação da candidatura à Exposição
Internacional de 1998 e início dos trabalhos de implantação na zona
oriental; criação da Área Metropolitana de Lisboa. 1993 - Conclusão do
Plano Director Municipal (Arqº Bruno Soares); aprovação da nova ponte
sobre o Tejo; implementação da rede viária.
Muito antes de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, ter dado
o primeiro foral à cidade de Lisboa, em Maio de 1179, já esta cidade
possuía uma vastíma história. Os ocupantes fenícios que habitavam o
monte onde se encontra actualmente o Castelo de S. Jorge, chamavam a sua
colónia de Alis ubbo. Aquando da ocupação romana, em 205 A.C., o seu
nome passou a ser Felicitas Julia. Após a passagem dos povos nórdicos,
nomeadamente dos visigodos, a permanência árabe deixou vestígios
indeléveis. Desta época remonta o nome de Aschbouna, enquanto os
lusitanos, habitantes originais desta zona da Península Ibérica, sempre
conheceram esta povoação por Olisipone ou Olissipo, facto que a fértil
imaginação dos povos prontamente associou a uma passagem do mítico
herói Ulisses por estas paragens. Com toda esta vastíssima história, é
perfeitamente natural que a cidade de Lisboa já possuísse um símbolo
algum tempo antes da criação oficial deste. De facto, a insígnia da
cidade era simplesmente uma nau, tal como em inúmeras outras cidades
ribeirinhas, possuindo apenas ligeiras diferenças a nível de desenho.
Assim, para além da nau, Lisboa seria representada por duas aves, um
corvo e uma águia, à proa e à popa da embarcação, respectivamente.
Com o tempo, este brasão transformou-se e as aves que adornavam a nau
passaram a ser, simplesmente, dois corvos. A explicação correntemente
aceite para tal facto reporta-se à nau que transportou os restos mortais
do mártir S. Vicente, que viajou do Algarve para Lisboa numa nau, sempre
acompanhada por dois corvos que a protegeram e indicaram o caminho seguro
até ao destino. A partir do reinado de D. Manuel, a cidade de Lisboa
passou a utilizar um escudo bi-partido, tendo do lado direito as armas
reais e na parte superior esquerda a nau com os dois corvos, por cima da
divisa do monarca - a esfera armilar, o escudo e a coroa real. Foi apenas
em 1897 que a cidade requisitou um alvará que lhe concedesse oficialmente
um brasão de armas. Mais recentemente, em 1940, uma vez ouvida a
Associação de Arqueólogos Portugueses, chegou-se à representação
actual do brasão de armas da cidade de Lisboa:
PRAÇA DO COMÉRCIO - CRUZ QUEBRADA Poente Marítimo A grande sala de
visitas de Lisboa e uma das mais belas praças da Europa, é a Praça do
Comércio, também conhecida por Terreiro do Paço (nome que deriva do
opulento e desaparecido Paço Real da Ribeira). Na Praça do Comércio há
que admirar a sua vastidão (quatro hectares), rodeada de arcas, o Arco
Triunfal da Rua Augusta, concebido depois do terramoto de 1755 e só
rematado 80 anos depois (traça rectificada de Veríssimo da Costa,
escultura de Camels e Victor Bastos), a famosa Estátua Equestre de D.
José (obra de Machado de Castro) e o pitoresco Cais das colunas. Sempre
na direcção Poente situa-se a 100 metros o edifício dos Paços do
Concelho (1874, Domingos Parente e Ressano Garcia), digno de visitar-se
pela sua galeria, salão nobre e dependências recheadas de boas obras de
arte. O Pelourinho (Eugénio dos Santos?) foi erguido de pois do
Terramoto. Do lado do Sul o antigo Arsenal da Marinha, construção
pombalina. O Cais do Sodré e Praça Duque da Terceira, esta com a sua
estátua, fazem o átrio da grande Avenida 24 de Julho, dita o
"Aterro", obra do ultimo quartel do século passado.
Actualmente, esta zona da cvidade é, com os seus inúmeros bares e
discotecas, o ponto de eleição da vida nocturna lisboeta. Do lado Sul
situam-se as vastas instalações do Porto de Lisboa (docas, cais,
oficinas, armazéns, gares marítimas) e que se prolonga até Belém. A
Rocha do Conde de Óbidos com sua escadaria e alto Jardim, sobranceiro ao
mar, conduz ao Museu Nacional de Arte Antiga (antigo Palácio Alvor), um
dos mais apreciados da Europa, com um edifício novo ligado ao núcleo
antigo. Admiram-se nele obras de arte de nome universal, os Painéis
famosos de Nuno Gonçalves, a custódia de Belém de Gil Vicente e
milhares de espécimes preciosos. Perto situa-se o Palácio dos Marqueses
de Abrantes (Embaixada de França), e nesta zona o popular bairro da Lapa,
aristocrático e popular também. Seguindo pela Pampulha a linha dos
eléctricos entra-se no curioso bairro de Alcântara, fabril e muito
populoso. Nele, a Norte, se situa o Palácio das Necessidades (Ministério
dos Estrangeiros), a Tapada das Necessidades. Seguindo para Poente,
tomando a Calçada da Tapada, encontra-se a bela Tapada da Ajuda, de vasta
área, (antiga Tapada Real), e nela o Instituto Superior de Agronomia e o
Observatório Astronómico. Passando pelo bairro do Calvário chega-se a
Santo Amaro, onde se ergue a curiosa ermita deste Santo, recheada de
preciosa cerâmica de azulejos. A estação os eléctricos da Companhia
Carris ocupa os terrenos que foram dos Condes da Ponte, de cujo palácio
há vestígios. A Junqueira corre paralela, pelo Norte, à Avenida da
Índia; é uma bela Avenida natural com bons palácios (Condes da Ribeira,
antigo Burnay, das Ágias, de Lázaro Leitão, etc.). Chega-se finalmente
a Belém. Neste populoso bairro os monumentos e curiosidades não faltam.
O Palácio Nacional de Belém, século XVIII, antigo Paço Real,
sobranceiro à Praça Afonso de Albuquerque, é um escrínio de obras de
arte e de sumptuosas salas, Pátio dos Bichos e jardins. Contíguo o
famoso Museu Nacional dos Coches, dos melhores da Europa no género, onde
se admiram preciosos exemplares dos séculos XVII e XVIII, de rara
ostentação e de beleza. Tomando pela Calçada da Ajuda, no qual se
situam o Jardim Colonial e o formoso Jardim Botânico, vai dar-se ao
Palácio da Ajuda, antigo Paço Real (século XVIII e XIX), mole imensa de
pedra, embora por acabar, e onde, em dezenas de salas, se recolhem
admiráveis obras de arte e se admira rico mobiliário; nos átrios
magníficas estátuas, algumas de Machado de Castro. Anexo ao edifício
temos a rica Biblioteca da Ajuda (da qual foi director Alexandre Herculano),
e perto, a curiosa Torre do Galo da Ajuda. Voltando abaixo, à linha dos
eléctricos, encontra-se na Praça do Império o majestoso Mosteiro dos
Jerónimos (século XVI), um dos mais belos espécimes da arquitectura
gótico-manuelina e da renascença, com os seus pórticos admiráveis,
igreja surpreende pela grandeza e finura, abóbadas de audaciosa
construção, na qual se encontram os túmulos de Vasco da Gama e de
Camões, com seus claustros e galerias maravilhosas, em renda de pedra e
lavores delicadíssimos, capela de Alexandre Herculano, onde repousam
vultos notáveis das letras, e o corpo extenso para poente (antigo
convento dos frades Jerónimos). Neste monumento trabalharam os célebres
Boytac, João de Castilho; Chanterene, Torralva, Jerónimo de Ruão
(século XVI ). Não longe dos Jerónimos, sobre o Tejo, depara-se a jóia
arquitectónica que é a Torre de Belém, um sopro artístico da epopeia
dos Descobridores (século XVI), obra de Francisco de Arruda, maravilha de
renda em pedraria, com suas balaustradas, salas, baldaquilhos, balcões,
baluartes. Continuando para poente chega-se a Algés e Dafundo; aqui é da
visitar o magnífico Aquário Vasco da Gama, museu de espécies
marítimas.
PRAÇA DO COMÉRCIO - POÇO DO BISPO Oriente Marítimo O segundo
itinerário nasce naturalmente na Praça do Comércio. Logo na Rua da
Alfândega, à esquerda, encontra-se a Igreja da Conceição Velha que foi
antes a famosa Igreja da Misericórdia (século XVI), arruinada pelo
Terramoto, e da qual se escapou o Pórtico, magnífica obra de
arquitectura manuelina. Na Rua dos Bacalhoeiros, que corre paralela pelo
Norte, situa-se a curiosa Casa dos Bicos, parte do que foi o palácio
quinhentista construído por Afonso de Albuquerque; a fachada principal
ergue-se do lado posterior. Numa derivante, pode tornar-se, pela Rua da
Padaria, o caminho da Igreja da Sé, que remonta a 1147, ano da Tomada de
Lisboa aos Mouros. Românica de seu fundamento, foi engrandecida com o
gótico puro nos séculos XIII e XIV. Admiram-se nela as naves,
restauradas já no actual século, a capela de Bartolomeu Joanes, o
deambulatório e capelas góticas de D. Afonso IV, o Claustro de D. Diniz,
e a fronteira, torres, janelas e muralhas; é um monumento cheio de beleza
austera e de documentos, tendo anexo um rico museu. Perto a Igreja de
Santo António (que foi a Casa de Santo António da Câmara de Lisboa),
obra de Mateus Vicente (século XVIII), cobre os destroços de um anterior
templo majestoso. Voltando à linha dos eléctricos na Rua da Alfândega
encontra-se, à direita, o Arco Escuro, uma das portas do histórico e
pitoresco Bairro de Alfama. Este bairro é uma das grandes curiosidades da
Lisboa antiga; nele avultam restos de muralhas na Judiaria, a Torre de
Alfama, moura, no Largo de S. Miguel, pórticos, cunhais, restos de velhos
palácios, as igrejas de S. Miguel e de Santo Estêvão, becos, betesgas,
arcos, escadinhas, beiradas, miradouros e pátios. O Largo do Chafariz de
Dentro é o átrio natural do Bairro, que se estende quase até a São
Vicente, pelo sítio do Salvador. As Portas do Mar, o Arco de Jesus, o
Arco do Rosário, este no Terreiro do Trigo, constituem curiosas portas de
acesso ao Bairro de Alfama. Seguindo para Oriente encontra-se o antigo
Arsenal do Exército, hoje Museu Militar ou de Artilharia, que reúne,
além de magnificas espécies militares e históricas, uma boa colecção
de obras de arte. O Pórtico nascente do Museu é obra do actual século
(Teixeira Lopes). No trajecto para Oriente, passada Santa Apolónia,
situa-se a grande mole que é o antigo Mosteiro de Santos-o-Novo, dos
Comendadores de Aviz, na Cruz da Pedra, com bela Igreja e famoso claustro,
obra do século XVII, construídos para as comendadeiras de Santos (Santos-o-Velho).
Não longe, e sempre na linha dos eléctricos, depara-se o grandioso
monumento da Igreja de Madre de Deus, uma das mais belas de Lisboa, antigo
convento dos Claristas (1509), fundado pela Rainha Dona Leonor, mulher de
D. João II. O pórtico primitivo sobre a rua (antiga estrada de
Enxobregas), ante-coro e sub-coro, cheios de preciosos quadros e opulentos
de ouro e de talha, a igreja, com seus painéis de azulejo, a sacristia -
são lugares de maravilha artística, do melhor da península hispânica.
Prosseguindo a jornada pelo fabril e populoso sítio de Xabregas e Beato,
o Palácio-Museu da Mitra (século XVII), da Câmara de Municipal, e que
pertenceu à Mitra Patriarcal, restaurado por D. Tomaz de Almeida. Nele se
encontram belos quadros de arte e linda colecção de azulejos. A viagem
termina naturalmente no Poço do Bispo, de onde se pode subir a Marvila e
tomar o caminho de Braço de Prata e Olivais, e onde já se pode observar
a evolução das obras de construção do parque para a Exposição
Internacional de 1998.
BAIXA - AVENIDAS - BENFICA Norte - Noroeste No Rossio, ponto de partida
para esta terceira linha de itinerário, que nos proporciona algumas
derivantes, situa-se o Teatro Nacional (1846), edificação cultural
concebida por Garrett, e mais tarde realizada pelo arquitecto Fortunato
Lodi. É, depois de S. Carlos, o mais belo de Lisboa. Na Praça dos
Restauradores situa-se o belo Palácio Foz, hoje da Câmara Municipal de
Lisboa, com sua bela fachada (Fabri, XVIII), rica escadaria, amplas salas
e dependências novas. Foi mandado construir pelo Marquês de Castelo
Melhor. A Avenida da Liberdade, aberta em 1887, termina no Parque Eduardo
VII, que data do começo do século e onde se situa a maravilhosa Estufa
Fria. Da Praça do Marquês de Pombal, esta com a sua estátua (obra de
Adães Bernardes, António Couto e Francisco dos Santos, continuada por
Simões de Almeida Sobrinho e Leopoldo de Almeida), toma-se o caminho das
grandes avenidas deste século. No Ponto da Avenida Fontes Pereira de
Melo, onde a linha do eléctrico segue para Benfica, tomamos a primeira
derivante deste itinerário. Em Palhavã encontra-se o palácio da
Azambuja (século XVII) um dos mais lindos espécimes solarengos de
Lisboa, que foi dos Condes de Sarzedas e Marqueses do Louriçal, hoje
Embaixada de Espanha. É conhecido por "Palácio dos Meninos de
Palhavã" (filhos naturais de D. João V que aqui residiram). Na
estrada de Benfica, à direita, está o Jardim Zoológico no belo Parque
das Laranjeiras, cujo palácio, no topo, que foi dos Condes de Farrobo, é
hoje do Estado. O Jardim é um dos melhores encantos de Lisboa. S.
Domingos de Benfica ostenta o belo Palácio dos Marqueses de Fronteira
(século XVII), com mata frondosa, jardins, salões revestidos de boa
cerâmica historiada de azulejos, lagos, galerias, constituindo o melhor
conjunto palaciano de Lisboa. A estrada de Benfica está rodeada de
quintas e bons palácios, e em S. Domingos encontra-se o túmulo de João
das Regras, na igreja local. A segunda derivante deste itinerário parte
da Praça Duque de Saldanha (Ventura Terra e Tomaz da Costa, 1909), e
leva, pelo Nascente, à Lisboa moderna, onde se levantam edifícios
culturais imponentes (Estatística, Casa da Moeda, Liceu Filipa de
Lencastre, Instituto Superior Técnico). A Igreja de Nossa Senhora de
Fátima, numa derivante da Avenida da República, é um belo templo
moderno (Pardal Monteiro), com magnificas obras de arte sacra de
escultores e pintores da geração de 30. A Praça de Touros do Campo
Pequeno (1882), tem uma área de 5 mil metros quadrados, foi traçada em
estilo mourisco, e é das melhores da Península. No largo Dr. Afonso Pena
ergue-se o Palácio que foi dos Távoras e dos Galveias, hoje da Câmara
Municipal (museu, arquivo e biblioteca), constituindo um precioso
documento de arquitectura solarenga do século XVII. O Monumento da Guerra
Peninsular é uma majestosa composição de grupos escultóricos (1932),
obra dos irmãos Oliveira Ferreira, do Porto, e certamente o mais
decorativo de Lisboa. No Campo Grande, situa-se o Palácio dos Galvões -
Mexias, que é tradição ter sido construído por D. João V para a Madre
Paula que se suspeita ter sido sua amante; é dos mais belos exemplares da
pura arquitectura Joaquina, em Lisboa. No Lumiar, situa-se o palácio de
S. Sebastião, a casa Palmela, e a Igreja Matriz, com uma nave muito
interessante.
ROSSIO - GRAÇA - PRAÇA DO CHILE - OLIVAIS Noroeste - Norte Do Rossio,
que é o nosso ponto de partida neste quarto itinerário, pode
percorrer-se, a pé, a histórica entrada do Corredouro - Andaluz, onde
há a assinalar o Coliseu dos Recreios, a contígua Sociedade de Geografia
- antigo Museu Colonial - alguns palácios e conventos de Santa Marta
(Hospital escolar, com magníficas colecções naturais de azulejo), e de
Santa Joana. O regresso ao Rossio põe-nos logo no lago de S. Domingos,
onde se situa a Igreja deste antigo mosteiro dominicano, ardido em 1755. O
Templo de S. Domingos, obra de arquitectura sacra, com um altar posterior
ao Terramoto, traço de Frederico Loduvice, vale por alguns pormenores. O
Palácio dos Condes de Almada, hoje do Estado, e chamado da
Independência, é famoso pela sua história, e por alguns factos que se
prendem com o seu passado. Passa-se então ao Bairro da Moraria, castiço
e pitoresco, reduzido a uma artéria principal, meia dúzia de ruas, como
as do Capelão e Amendoeira, becos curiosíssimos, casas de andar de
ressalto. Neste Bairro situam-se ainda a Ermida da Saúde e o edifício da
Guia, com majestosa escada setecentista. Seguindo o eléctrico toma-se,
por S. Tomé, o caminho do Castelo de S. Jorge. Foi tomado aos mouros por
D. Afonso Henriques, em 1147 e restaurado por D. João I; é um alto
miradouro esplendoroso, que domina Lisboa por todos os quadrantes do alto
das suas muralhas, onze torres, quadrelas e adarves, mostrando ainda
Portas históricas, como as da Traição e de Martim Moniz, e ostentando
esplanadas e braços de armas, além de pormenores interessantíssimos.
Perto ficam o Pátio de D. Fradique, com o Palácio Belmonte, o antigo
Convento dos Loios (quartel), e o Limoeiro, que foi Paço Real e dos
Infantes. Na base do Castelo, do lado Sul, fica a curiosa Igreja do Menino
de Deus, e algumas casas pitorescas seiscentistas. Seguindo a linha dos
eléctricos, por S. Tomé, chega-se ao sítio de S. Vicente, bairro que
foi aristocrático, hoje popular, com o seu mosteiro e igreja (1147,
reedificada por Filipe Terzio e, depois, Turricano e Tinoco, no começo do
século XVI). S. Vicente é majestoso no seu templo de ampla nave, e nele
se situa o Panteão Real da Casa de Bragança, nos claustros ricos de
azulejos. O Campo de Santa Clara, com a sua Feira da Ladra às
terças-feiras e sábados, tem um carácter muito próprio. Perto fica o
templo antigo das "Obras de Sª Engrácia". Na Graça há que
assinalar o antigo Convento e a bela igreja, e dependências (hoje
quartel) onde se conservam curiosos documentos antigos, em cerâmica e
arquitectura claustral. Perto fica o Miradouro do Monte de S. Gens, de
amplos horizontes, e a Ermida do Monte que remonta ao século XII. A um
quilómetro de distância fica o alto da Penha de França, com a sua
igreja e as lendas do lagarto da Penha. Desce-se pela linha dos
eléctricos desde Sapadores até à grande Avenida Almirante Reis que
parte da rua do Socorro pela Rua da Palma, e vai terminar no antigo
Areeiro, hoje Praça Francisco Sá Carneiro. Esta artéria deriva, a
Poente, para o Bairro da Estefânia e Campo de Sant'Ana, e aqui se situa o
antigo Paço da Rainha ou da Bemposta (hoje Academia do Exército),
fundado no final do século XVII pela Rainha Dona Catarina de Bragança, e
cuja a capela tem alto interesse artístico, pela sua fachada e pormenores
artísticos. Alguns palácios esmaltam este sítio agradável de Lisboa,
entre eles o Palácio Mitelo e o Palácio Pombeiro (legação de Itália).
Retornando pelos Anjos à Almirante Reis - artéria do começo do século
- encontram-se, sucessivamente, a Igreja dos Anjos, transferida em 1900 de
outro local próximo do Regueirão, a Praça do Chile, a Alameda de D.
Afonso Henriques com a sua Fonte Monumental e, enfim, a grande praça e
bairro do Areeiro. Da Praça do Chile, e passando pela Praça Francisco
Sá Carneiro, a Avenida do Aeroporto conduz ao terminal aéreo de Lisboa.
Mas antes, da Rotunda do Relógio, parte para a direita a Av. Marechal
Gomes da Costa, em direcção aos Olivais e ao rio. Será no fim desta
avenida que, em 1998, se realizará a Exposição Internacional de Lisboa,
dedicada aos Oceanos.
BAIXA - ESTRELA - CAMPOLIDE Norte - Noroeste - Poente Se o passeante se
dispensa de subir o romântico e buliçoso Chiado, infelizmente bastante
afectado pelo incêndio de 1988, pode tomar o eléctrico na Praça do
Duque da Terceira, e na Rua do Alecrim admira a famosa estátua de Eça de
Queiróz (Teixeira Lopes) e o exterior do Palácio Quintela-Farrobo
(séculos XVIII e XIX). Na Praça de Camões o monumento ao Poeta (obra de
Victor Bastos, 1867) enfrenta o Largo das Duas Igrejas, que são as de
Nossa Senhora do Loreto, dos Italianos, e a da Encarnação. As ruínas do
Carmo não ficam longe e podem ser visitadas com a maior comodidade
utilizando-se o Elevador de Santa Justa, partindo da Rua Áurea. Foi ali o
rico Convento dos Carmelitas, fundado por D. Nuno Álvares Pereira, em
1389-1423, numa bela construção gótica, com igrejas de três naves,
tudo obra dos arquitectos Gonçalo, Afonso e Rodrigo Anes, com solidez e
potência, mas que não logrou resistir ao terramoto de 1755. Em vão os
frades o tentaram reconstruir. Ficou uma bela ruína engrinaldada, com
documentos históricos, mantendo-se a ossatura da capela mor. Pelo
eléctrico chega-se ao Bairro Alto, um dos mais pitorescos e populares de
Lisboa, com suas casas e velhos palácios, alguns do século XVII, ruas
cheias de carácter, tradições e alguns bons edifícios: Conservatório
Nacional onde foi o Convento dos Caetanos, a Igreja dos Inglezinhos de S.
Pedro e S. Paulo e o edifício do antigo jornal "O Século", na
rua do mesmo nome. No Largo Trindade Coelho ergue-se a rica e admirável
Igreja de S. Roque, ou seja o Templo da Misericórdia, e que foi antes da
Companhia de Jesus (1580). É uma das riquezas sacras de Lisboa, pegado de
capelas com preciosidades artísticas, entre estas a famosa capela de S.
João Baptista (1749 e 1752), construída em Itália com raros materiais
nobres, e que se deve à magnificência de D. João V. É o mais completo
museu de arte italiana, para o qual trabalharam os melhores artistas da
época, e que custou 225 mil libras esterlinas. S. Roque é uma maravilha
de Lisboa só excedida pela Madre Deus. Em S. Pedro de Alcântara situa-se
o Palácio Ludovice, construído pelo famoso arquitecto da Basílica de
Mafra. Na Calçada do Combro, que conduz à Estrela, encontra-se a Igreja
de Santa Catarina, rica de talhas e de pinturas, e que pertenceu ao antigo
Convento dos Paulistas. Na Calçada da Estrela, ao alto da Avenida de D.
Carlos I, ostenta-se o majestoso Palácio da Assembleia Nacional, antigo
convento de S. Bento da Saúde, adaptado (1833) às Cortes da Nação, e
depois transformado e enriquecido; é uma mole imensa de cantaria de
linhas arquitectónicas, harmónicas e proporcionadas (Ventura Terra,
Refoios e Marques da Silva). Exteriores, átrios, escadarias, galerias,
hemiciclos da Câmara de Deputados e Corporativa, os "Passos
Perdidos", salas e dependências, claustros e jardins fazendo um
delicioso conjunto, recheado de beleza e de arte na qual perduram os nomes
de grandes pintores, arquitectos e e escultores (Columbano, Veloso
Salgado, Simões de Almeida Sobrinho, Leandro Braga, Teixeira Lopes, Sousa
Lopes, Cristino da Silva, Martins Barata, etc.). O Largo da Estrela é uma
das mais belas praças de Lisboa. Nela se ergue a majestosa Basílica do
Coração de Jesus, ou da Estrela (1779- 1790), fundada pela Rainha D.
Maria I e obra dos arquitectos Mateus Vicente e Reinaldo Manuel, e
projecção menor do Convento de Mafra. É um monumento magnífico,
construído por materiais nobres, com muitos espécimes de arte, sobretudo
escultura, e sobre o qual assenta o formoso zimbório, que domina Lisboa
desde o alto. O edifício conventual, que foi destinado a religiosos
carmelitas, está ocupado por um hospital militar. Defronte situa-se o
Jardim da Estrela, (1842), dos mais belos de Lisboa. Os eléctricos
levam-nos depois a Campolide, de onde, descendo-se pela Calçada dos
Mestres, se atinge o imponente Aqueduto das Águas Livres, uma obra que
desafia as construções do mundo antigo.
Uma antiga tradição fala-nos de Veríssimo, Máxima e Júlia, como
mártires lisbonenses na perseguição de Diocleciano (viragem do século
III para o IV). O certo é que, meio século depois, encontramos a diocese
presidida por Potâmio, seu primeiro bispo conhecido, que interveio nas
polémicas doutrinais do Cristianismo de então (arianismo). No século V
chegaram os bárbaros. Sob a monarquia visigótica, os bispos de Lisboa
participaram em vários concílios, de Toledo, de Viarico no de 633 a
Landerico no de 693. Como sucedeu por toda a parte, datará desta época a
descentralização do culto, da cidade para os campos em redor,
constituindo-se as primeiras paróquias rurais. Dos princípios do século
VIII a meados do XII, Lisboa esteve sob domínio muçulmano. Não
conhecemos o nome de nenhum dos seus bispos deste período, mas
continuaram a existir cristãos na cidade e seu território. Aquando da
tomada de Lisboa aos mouros, em 1147, existia um bispo moçárabe ( =
cristão sob domínio muçulmano) em Lisboa. Depois da conquista, a
diocese foi refeita, ficando por seu bispo o inglês D. Gilberto, vindo
com os cruzados: Lisboa ficaria oficialmente ligada (sufragânea) à
arquidiocese de Compostela até ao fim do século XIV. Construiu-se a Sé,
no local onde fora a mesquita e talvez antes a Sé visigoda, sendo o
único monumento românico que resta na capital. A Sé tinha o seu Cabido
de cónegos que apoiavam o bispo e mantinham uma escola capitular. Nessa
escola estudaria em menino Santo António de Lisboa, já na viragem para o
século XIII. Além da Sé e das paróquias que rapidamente se
estabeleceram, a partir talvez de antigas comunidades moçárabes, Lisboa
viu levantar-se por iniciativa de D. Afonso Henriques o mosteiro de S.
Vicente de Fora (por ficar fora das muralhas da altura). S. Vicente foi
martirizado em Valência no século IV, e as suas relíquias foram depois
muito veneradas pelos moçárabes no cabo algarvio que tem o seu nome. O
nosso primeiro rei trouxe-as para Lisboa, ficando guardadas na Sé. O
referido mosteiro foi um importante centro cultural e nele se formou
também Santo António. Em 1289 o bispo D. Domingos Jardo fundou o
colégio dos Santos Paulo, Elói e Clemente, para o ensino de cânones e
teologia. Pouco depois e, com intermitências, até ao século XVI, Lisboa
dispôs duma Universidade fundada por D. Dinis com o apoio do clero. A
Universidade só ensinou Teologia a partir do século XV, sendo até aí
ministrada nos conventos dos dominicanos e franciscanos, levantados no
século XIII. Na segunda década deste século nasceu em Lisboa Pedro
Julião, mais tarde papa com o nome de João XXI (1276-1277). Em 1393,
Lisboa foi elevada a metrópole eclesiástica, sendo seu primeiro
arcebispo D. João Anes. Ficaram-lhe sufragâneas várias dioceses
portuguesas do centro e sul, a que se juntaram outras, ultramarinas, no
século seguinte. No século XVI, o cardeal D. Henrique, arcebispo de
Lisboa, aplicou na diocese os decretos reformadores do Concílio de Trento,
devendo-se-lhe, nomeadamente a fundação do seminário diocesano de Santa
Catarina em 1566. Era um estabelecimento modesto e os seus alunos
frequentavam as aulas do grande colégio jesuíta de Santo Antão. Eram
tempos de intensa vida religiosa, alimentada por muitas congregações
religiosas e associações de piedade e caridade, ligadas a mosteiros,
conventos e paróquias: a primeira Misericórdia foi fundada em 1498 numa
capela do claustro da Sé de Lisboa. Desde o final do século XV não se
permitiam divergências religiosas no país; mas a missão ultramarina -
tão magnificamente evocada no mosteiro dos Jerónimos - pedia
constantemente obreiros: entre tantos outros, Lisboa deu S. João de Brito
à Índia e o Padre António Vieira ao Brasil, ambos jesuítas do século
XVII. Em 1716, o papa Clemente XI elevou a capela real a basílica
patriarcal, ficando a antiga diocese dividida em duas até 1740, ano em
que foi reunificada. Sucederam-se até hoje dezasseis patriarcas à frente
da Igreja lisbonense, de D. Tomás de Almeida a D. José Policarpo: os
patriarcas de Lisboa são sempre feitos cardeais no primeiro consistório
a seguir à sua nomeação para esta Sé. Depois do grande terramoto de
1755, teve de se remodelar o tecido paroquial de Lisboa, com outros
templos e outras delimitações. A reorganização das paróquias da
cidade, feita pelo patriarca D. Fernando de Sousa e Silva em 1780, ficou
como base dos complementos ulteriores. Nesse mesmo ano, a rainha D. Maria
I cedeu-lhe o antigo colégio dos jesuítas em Santarém, para aí
transitando o seminário diocesano. Foi também D. Maria I quem mandou
construir a basílica da Estrela em honra do Sagrado Coração de Jesus.
Após grandes perturbações ligadas às invasões francesas e às lutas
liberais com as respectivas sequelas, a reorganização diocesana deveu-se
especialmente ao patriarca D. Guilherme Henriques de Carvalho, em meados
do século XIX. Foi ele quem conseguiu reabrir o seminário diocesano de
Santarém em 1853. Os seus sucessores até à terceira década do século
XX tiveram de sustentar a vida católica contra grandes reptos
ideológicos e institucionais, antes e depois da implantação da
República. A partir de 1929, o patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira
consolidou a vida diocesana, fomentando as vocações sacerdotais,
fundando novos seminários - Olivais (1931), Almada (1935) e Penafirme
(1960) - , multiplicando paróquias e impulsionando o apostolado laical.
Foi também no seu tempo que reabriu a Sé de Lisboa, depois de
arquitectonicamente reintegrada. O seu sucessor, D. António Ribeiro,
continuou-lhe a obra, nos termos novos exigidos pelo Concílio Vaticano II
e o Portugal de antes e depois do 25 de Abril. Em 1975 criaram-se as
dioceses de Setúbal e Santarém, destacadas do Patriarcado de Lisboa. Em
1984, D. António Ribeiro fundou o seminário de Caparide. Em Outubro de
1998, o patriarca D. José Policarpo transferiu os serviços diocesanos
para o antigo mosteiro de S. Vicente de Fora, que já os alojara do 1834 a
1910.
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