CASTELO DE ALMOUROL
Elevando-se no meio do Tejo, entre a Vila
Nova da Barquinha e a freguesia de Praia do
Ribatejo, o Castelo de Almourol é ex-libris do
Concelho. A originalidade do local onde foi
edificado torna-o alvo das mais variadas lendas
envolvendo-o numa auréola misteriosa.
Cercado pelas águas do rio, destaca-se num
maciço granítico de uma ilhota do Tejo. É um
afloramento com a altitude de 18 metros sobre o
nível de estiagem, com 310 metros de comprimento
e 75 de largura máxima. À sua volta tufos de
vegetação completam o deslumbrante quadro
paisagístico.
A fortaleza foi reconstruída por Gualdim
Pais, mestre da Ordem dos Templários, em 1171.
A singular localização do Castelo serviu de
inspiração a poetas e romancistas. Várias lendas
correm em romances e livros de cavalaria,
ligadas a esta fortaleza.
Francisco de Morais, na crónica de Palmeirim
de Inglaterra situa ali o rapto das princesas
Polinarda e Miraguarda, e o combate entre o
Palmeirim e o Cavaleiro Triste.
Com os Castelos de Ceras (Tomar), do Zêzere e
da Cardiga constituía um dos Baluartes da
cintura defensiva do Tejo. Era por conseguinte
um elemento de grande importância estratégico
nos tempos conturbados da Reconquista Cristã.
A origem do nome Almourol tem levantado
várias conjunturas. Este topónimo aparece-nos
escrito nas seguintes variantes: Almoriol,
Almourol, Almorol, Almourel, Almoirel. Alguns
autores relacionam a designação com Moron,
cidade citada por Estrabão o por este situada
nas margens do rio Tejo. Outros afirmam que o
nome está associado a Muriella, nome que surge
na descrição dos limites do Bispado da Egitânea.
No entanto, a tese parece ter mais consistência
é a do Dr. Leite Vasconcelos que faz derivar o
topónimo de "moura" ou "mouro" com significado
de "pedra alta".
Seja qual for a etimologia de Almourol, o que
parece certo é a sua origem romana. Esta opinião
é fundamentada pela diferença de construção
entre as bases e o restante corpo do edifício, e
também por alguns vestígios arqueológicos
encontrados nas escavações feitas na ilha.
As características arquitectónicas da
construção são muito semelhantes às fortalezas
medievais existentes no nosso país: dois
recintos comunicantes rodeados por muralhas
encimadas de ameias e alcançadas através de um
pavimento para os guerreiros, dez torreões com
seteiras e ameias e uma torre de menagem no
segundo recinto.
Detenhamo-nos agora a observar o traçado do
edifício. Por um carreiro escarpado atingimos a
entrada principal, uma porta entre dois torreões
semicirculares. Por cima do arco da porta
encontra-se uma inscrição em duas pedras
rectangulares de calcário branco. Nessa lápide
se menciona o obreiro da reconstrução e o ano em
que foi efectuada. Transporta esta porta,
pode-se ver numa das ombreiras do lado interior
uma pedra dum monumento sepulcral romano. É um
cipo trazido provavelmente das ruínas da antiga
Nabância, junto a Tomar, quando Gualdim Pais
iniciou as obras de reconstrução do Castelo. No
interior do espaço murado reparamos nos
vestígios das várias divisões do castelo. É
neste terraplato inferior que se situa a paterna
ou porta da traição. Junto dela parece ter
existido um poço actualmente cheio de entulho,
que serviria para obter água. Prosseguindo,
chegamos a outra porta servida por degraus e
encimada por uma inscrição e que nos conduz à
parte central da edificação. As largas muralhas
que nos envolvem são servidas por uma escadaria
de pedra que dá acesso ao coroamento da muralha.
A nossa atenção prende-se principalmente na
Torre de Menagem que se ergue altiva nesse
recinto.
Acima da janela vê-se a cruz patesca que foi
primitiva insígnia adoptada pelos Templários.
A Torre quadrangular é servida por uma escada
de madeira, uma vez que a porta de entrada dista
do terreno 2,8 metros.
Subindo os três pisos que constituem a torre
atingimos o topo, actualmente de cimento, mas
assente sob um pavimento de madeira tal como os
outros pavimentos.
No terraço a nossa vista perde-se na
deslumbrante paisagem que daí avistamos. Depois,
concentramo-nos de novo no Castelo e reparamos
nas dez torres cilíndricas e bastões que o
formam e constatamos a irregularidade da sua
planta, a qual se deve ao relevo rochoso da ilha
e no qual assentou a base das muralhas. A
fortaleza teve um papel notável na história dos
templários e esteve na posse da ordem até 1311,
data da sua extinção.
O Castelo foi considerado Monumento Nacional
por decreto de 16 de Junho de 1910.
LENDA DE D. BEATRIZ E O MOIRO
Aí pelos séculos IX ou X, era dono do castelo
um senhor Godo chamado D. Ramiro, casado e tendo
uma filha única de nome Beatriz.
Valoroso soldado era, todavia, rude orgulhoso
e cruel como a maioria dos senhores de sangue
gótico. Ao regressar de uma das suas sortidas de
guerra e orgulhoso dos seus feitos que em grande
parte se cifravam em inúmeras atrocidades
encontrou já próximo do Castelo duas moiras, mãe
e filha, que embora infiéis reconheceu serem
lindas como sua esposa e filha, que deixara em
seu solar.
Fatigado da viagem e sedento, D. Ramiro
interpelou as moiras para que cedessem a água
que a mais jovem transportava na bilha.
Assustada pela figura e tom de voz do feroz
cavaleiro, a pequena moira deixou que a bilha se
lhe escapasse das mãos e quebrando-se, perdeu o
precioso líquido que D. Ramiro tanto desejava.
Encolorizado e cego de raiva, este de pronto
enristou a lança e feriu as duas desgraçadas que
antes de morrerem, o amaldiçoaram. E porque
surgisse entretanto um pequeno moiro de 11 anos,
filho e irmão das assassinadas o tornou cativo e
trá-lo para o Castelo. Chegado que foi a
Almourol o moço viu a mulher e a filha de D.
Ramiro e jurou fazer nela a sua vingança.
Passaram anos. A castelã adoece e pouco a
pouco se foi definhando até morrer, em resultado
do veneno que lhe vinha ministrado o cativo
agareno.
O desgosto de evento leva D. Ramiro a
procurar na luta contra os infiéis, refrigério
para a sua desdita e parte confiando a guarda da
sua filha ao jovem mouro, que fizera seu pagem,
dada a docilidade e cortesia que o mesmo sempre
astuciosamente revelara. Aconteceu, porém, que
os dois jovens ignorando as diferenças de
condições e de crenças, em breve se enamoraram,
paixão contra a qual o mancebo lutou
desesperadamente mas em vão, dado que tal amor
lhe impedia de consumar a sua vingança.
Mas não há bem que sempre dure e o enlevo e a
felicidade dos dois jovens são desfeitos pelo
regresso de D. Ramiro que se fazia acompanhar
por outro castelão, a quem prometera a mão de
sua filha.
O moiro, então alucinado e perdido, contou
tudo a Beatriz as crueldades do pai, as
promessas de vingança o envenenamento da mãe e a
luta que travara entre o amor e o juramento que
fizera.
Não se sabe o que se seguiu a esta confissão.
Diz entretanto a lenda, que Beatriz e o moiro
desapareceram sem que mais houvesse notícias
deles. E D. Ramiro, cheio de remorsos e de
desgosto morreu, pouco depois, ficando
abandonado o Castelo, Conta a lenda que em
certas noites de luar se vê o moiro abraçado a
D. Beatriz e de Ramiro a seus pés, a implorar
clemência sempre que o moiro solta a palavra
"maldição".
Deste modo o viajante que por ali deambule,
não deverá se surpreender se, em certas noites
de luar, vir passar por entre as ameias as
vestes brancas dos templários com a cruz de
sangue sobre o peito de D. Beatriz e o moiro
unidos por um abraço eterno. Talvez consiga
ouvir mesmo, por entre o rumorejar das águas, os
soluços de D. Ramiro.
LENDA DE ALMOROLON
No século XII era senhor de Almorol um emir
árabe chamado Almorolon, do qual pretendem
alguns que o Castelo tomou o nome.
Nele habitava um moiro com uma filha,
formosíssima donzela que adorava.
Quiseram os fados que a bela jovem se
enamorasse dum cavaleiro cristão, a tal ponto
que a paixão lhe revelou o modo e a arte de o
introduzir de noite no Castelo a que se
habituara, em repetidas incursões amorosas,
franquear a porta deste a companheiros seus que
perto embuscados aguardavam.
E assim foi o Castelo traiçoeiramente
conquistado. Mas desiludida e triste vitória foi
esta, que o emir e sua filha, estreitamente
abraçados, lançaram-se das muralhas do castelo
ao rio, preferindo tal morte ao cativeiro
resultante de tão vil derrota.
LENDA DO ASSALTO AO CASTELO
Ao Castelo vieram ter as princesas Miraguarda
e Polinarda, com as suas donas e donzelas a que
o gigante Palmeirim de Inglaterra deu
hospitalidade e as tratou com a maior das
atenções ainda que as tivesse suas prisioneiras.
Não tanto pela bela Miraguarda, essa que a
natureza fez estremeada de bem parecer e
formosura, mas antes pela sua dama Polinarda,
Palmeirim tenta raptá-las e salta para a
esplanada do castelo.
Mas aí estava o Cavaleiro Triste, vencedor
dos maiores campeões daquela época e que era
apaixonado por Miraguarda.
Desafiando Palmeirim para um passo de armas,
o feriu tendo palmeirim de ser curado das suas
feridas em uma vila a 3 Km do Castelo.
Entretanto o Gigante Dramusiando que
anteriormente Palmeirim vencera, convertido à fé
cristã se fizera seu amigo e companheiro, tendo
notícias de grandes forças de Almourol quis
medi-las com ele e venceu. Dramusiando ficou
então senhor do Castelo e desde então ficou de
guarda às princesas, obrando maravilhas de força
e valor.