Como muito bem escreveu Frei Manuel
Pimentel, em 7 de Maio de 1758, a paróquia estava toda junta e
unida na mesma vila, sem ter lugar algum de fora, e situada em
campinas, tendo próximo da vila um rochedo com vestígios de que
foi murado, a que vulgarmente se chama castelo, e no alto uma
capela particular da invocação de Nossa Senhora da Assunção (e
não de Santa Bárbara). Esta capela, ao que se sabe, foi
derrubada no século XIX e ali edificada a actual torre para o
relógio, aproveitando a pedra da capela demolida.
Qual terá sido a origem desta
localidade? Com fundamento nas investigações levadas a efeito
pelo emérito Prof. Dr. Adriano Vasco Rodrigues, a quem se deve o
mais aprofundado estudo sobre a história e os valores culturais
desta região, o nome da Meda estará relacionado com o radical
Med, Meid; com a Quinta do Medo, onde há vestígios de
povoamento luso-romano e a tradição diz ter sido a Meda
primitiva, ou com o castro da Medelinha, ao sul dos
Moínhos do Vento, a uma altitude de 800 metros, devendo ter-se
em conta que na Idade Média o topónimo Meda aprece grafado
Ameda, Almeda e Amida. Leite de Vasconcelos
refere a existência de uma tribo lusitana fixada nesta região
que em 48 A.C. foi atacada por Cássio Longino e suas tropas,
tendo os medobrigenses retirado para os Montes Hermínios.
Júlio Cesar, no cap. XLVII-1.2, no De Bello Alexandrino
Comentarii faz uma longa referência aos medobrigenses,
infirmando a referência de Leite de Vasconcelos. Aquele ilustre
investigador e autor da monografia "Terras de Meda - Natureza
e Cultura", o Prof. Adriano V. Rodrigues, tem defendido, e
sem controvérsia vem demonstrando, que os actuais medenses são
os sucessores dos valentes medobrigenses que foram os últimos a
resistir aos romanos e depois forçados a contribuir para a
construção da famosa Ponte de Alcântara sobre o Tejo, onde,
aliás, o seu nome se encontra referido numa inscrição latina ali
colocada, em singular sequência que indica um percurso de sul
para norte.
Caberá fazer uma referência ao
testamento de D. Flâmula, sobrinha do Rei Ramiro II, de Leão,
(século XI) pelo qual, entre outros bens, deixou para obras de
beneficência "nostros castellos esse Trancoso, Moravia,
Longrovia, Neuman, Vininata, Amendula, Pena de Dono,
Alcobria, Semorzelli, Caria...", havendo recentemente quem
considere que "Amendula", (ou Amindula),
localidade ali referida, mais não será que a nossa actual Vila
da Meda, infirmada de certo modo pela proximidade geográfica das
localidades.
Porém, e como diz o mesmo ilustre
investigador, Prof. Dr. Adriano Vasco Rodrigues, "A Meda [Al-Meda,
Ameda e Amida] nos alvores da nacionalidade portuguesa era
de todas as actuais freguesias do concelho o mais insignificante
lugarejo. Um cenóbio beneditino instalado junto de uma fonte, no
sopé do morro granítico onde agora está a torre do relógio,
assinalava a presença cristã e o direito ao celeiro. A principal
riqueza era o trigo e os gados, que pertenciam à Ordem dos
Beneditinos.
É com a Ordem de S. Bento que a Meda
reinicia o processo da sua identidade e do seu desenvolvimento.
É, de facto, com os beneditinos que se constrói a primeira
igreja, de traça românica, base do actual templo. Sob S. Bento
ou depois sob S. Bernardo do Claraval, os monges brancos sabiam
escolher as terras mais produtivas do ponto de vista agrícola. A
Meda aprendeu com eles a sua regra de oiro - "ora et labora"
- , com eles crescendo paulatinamente, só se desenvolvendo de
facto a partir do século XV.
Dos beneditinos eram os principais
produtos, enquanto não foram parar às mãos da Ordem dos
Templários, e mais tarde, depois de 1319, para as da Ordem de
Cristo.
Os Templários deixaram algumas
marcas na Meda, desde a lembrança de algumas cruzes nas portas
das casas sitas na zona mais antiga da Vila (o que indica que
alguém daquela família participou numa cruzada), ou na Capela da
Senhora das Tábuas, por eles fundada e depois remodelada nos
séculos XVI, XVIII e XX. Como ensina o Prof. Dr. Adriano Vasco
Rodrigues, a invocação mariana terá origem numa pintura de Nossa
Senhora, num tríptico de madeira. O pavimento interior é feito
em mosaico, figurando folhas de palmeira ao gosto oriental. Ali
foram utilizadas, em lugar das pedras, vértebras humanas,
certamente por influência das capelas dos ossos, ao gosto dos
franciscanos. O estilo deste pavimento faz lembrar pavimentos
semelhantes em igrejas cristãs na Palestina, pelo que terão sido
os Cruzados a trazer este modelo. Aliás, no retábulo ali
existente ainda se encontram restos de pintura de primitivos
portugueses. Alguns ex-votos podiam ser vistos, ainda não há
muito, no interior da capela.
No sopé do morro do Castelo, perto
do pelourinho manuelino (a que falta a pirâmide octogonal, em
gaiola, derrubada por um ciclone nos idos de 40), a Ordem dos
Templários construiu uma torre que servia de celeiro. Numa sala
das Casas Novas, da Família Corrêa de Lacerda, na Rua do
Passeio, na Meda, é possível admirar ainda uma pintura a fresco,
que dá uma ideia de como era essa construção. A torre, por
desnecessária, veio a ser derrubada nos princípios do século
XIX, servindo muitas das suas pedras para construir o velho
Tribunal.
O pároco da Meda era freire
apresentado pela Mesa da Consciência da Ordem de Cristo, com o
título de Vigário. Tinha coadjutor, também freire da mesma
Ordem. Mas em 1758 a descrição da igreja matriz já é diferente
da que se faz no relatório da Visitação da Ordem em 1507; de
facto, sobre a antiga igreja românica já tinha sido construída,
nos alvores do século XVII, o templo actual. S. Bento (e não S.
Bernardo) continua a ser o orago. No século XVIII há registo das
irmandades da Senhora do Rosário, das Almas e do Santo Pastor.
D. Manuel I, o Venturoso, entre os
forais novos da Beira, concedeu foral à "Vila de Meda, Comenda
da Ordem de Cristo", tornando-a concelho sobre si mesmo.
Estávamos então em 1 de Junho de 1519.
O crescimento urbano da Meda, nos
séculos XVI e XVII - segundo o Prof. Dr. Adriano Vasco Rodrigues
- está ligado á economia cerealífera do centeio e do trigo,
pesando também a produção da carne, de queijo e de lã. No século
XVIII a Meda teve outro surto de desenvolvimento urbano motivado
pela lã, pelo pão e pela produção doméstica da seda.O dinheiro
que então entrou na vila fez-se sentir na construção de imóveis.
A produção do vinho passou gradualmente a pesar na economia,
sendo actualmente a actividade agrícola de maior peso.
Com o liberalismo, na segunda metade
do século XIX, o concelho da Meda começou a tomar outra forma e
a Vila a ter um desenvolvimento desusado. Ainda que não
recebesse de imediato todas as localidades que hoje integram o
Município, desde logo, a partir de 6 de Novembro de 1836, começa
o concelho da Meda a apresentar uma nova configuração.
A história dessa evolução
patenteia-se, com muitos e ricos pormenores na obra "O
Concelho de Meda - 1838-1999" da autoria do insigne medense
Dr. Jorge António de Lima Saraiva. Durante esse período, e
segundo este autor, "o município de Meda criou os mecanismos
essenciais ao bom funcionamento de um município moderno, embora
de uma forma muito ténue. As competências eram vastas e
variadas, mas a área de intervenção muito limitada, em parte
devido à política centralizadora desenvolvida pelo estado
Liberal." (pag. 61, obra citada). Abre-se então a estrada
para Trancoso, da Meda até A-do-Cavalo, procede-se à
expropriação de terrenos para tornar a Praça da Igreja mais
espaçosa e higiénica, constrói-se a Escola Conde de ferreira, o
edifício das Caldas de Longroiva e o cemitério de Ranhados,
criam-se escolas em Casteição, Prova e Ranhados, constroiem-se
chafarizes (o do Largo da Igreja, entre outros). Tudo isto com
muita instabilidade política que leva a acertos e desacertos com
delimitações de concelhos e comarcas.
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