Na Quinta da Veiga, no
território da freguesia de Longroiva, foi descoberta em
Abril de 1964, pelo Prof. Dr. Adriano Vasco Rodrigues, uma
estátua-menir. O topónimo - Longroiva - como afirma o Dr.
Jorge de Lima Saraiva, na sua obra "O Concelho da Meda",
diz-nos que se trata de uma povoação de origem céltica.
Nesta freguesia foram encontrados vestígios da presença
humana desde os tempos do megalitismo até ao período do
império romano. Aqui estiveram os árabes, que arrazaram
tudo, excepto a torre de menagem do castelo, até que D.
Fernando Magno, no século XI, a veio reconquistar.
O Vale da Veiga de Longroiva,
junto da ribeira dos Piscos, a uma altitude de 300 m,
constitui - segundo o prof. Dr. Adriano Vasco Rodrigues (in
"Terras da Meda" - pag. 63), uma excelente zona de pasto.
Esta planura ocupa o extenso "graben" que ali se formou.
Durante mais de dois milénios aquele espaço foi destinado
essencialmente ao pastoreio, mantendo um extenso baldio
junto da ribeira. A partir de meados do século XIX tornou-se
uma zona rica de vinhedos e de olivais, após a arrematação
ou a ocupação abusiva dos baldios por parte de alguns
senhorinhos. Quase no extremo norte do vale mantém-se ainda
um testemunho do aproveitamento agro-pecuário, que a Ordem
de Cristo aqui fez, conservado no nome da "Quinta do Chão
de Ordem". Os núcleos populacionais, anexos de Longroiva,
nascidos de antigas vilas agrícolas romanas, ou de herdades
medievais sob a protecção dos Templários, são as Quintãs, a
Quinta da Relva, a Quinta da Cornalheira e a dos Gamoais. A
Quinta dos Areais teve remota origem na exploração das minas
de chumbo, que se encontram nas imediações e eram já
conhecidas na antiguidade, devendo-se aos romanos o seu
maior aproveitamento.
Em 1145, 21 anos depois da data
em que D. Teresa outorgou o 1º foral de Longroiva, esta
pooação era doada aos Templários, por D.Fernão Mendes de
Bragança, rico-homem, conde e cunhado de D. Afonso
Henriques. Foi donatário o templário D. Hugo de Martónio.
A situação de Longroiva tinha
então, nas contingências da Reconquista - diz-nos o aludido
historiador Doutor Adriano Vasco Rodrigues - uma excelente
posição estratégica. Durante um período transitório, devido
ao avanço da Reconquista do Norte para Sul, teve Longroiva
uma grande importância militar e foi uma base principal para
os cavaleiros da Ordem do Templo. As vicissitudes por que
passou a Ordem dos Templários levaram a que, no reinado de
D. Dinis, esta Ordem fosse extinta e os seus bens passassem,
em Portugal, para a recem-criada Ordem de Cristo.
Foi na capela da Senhora do
Torrão, originariamente um pequeno templo românico, que os
Templários deixaram os testemunhos mais expressivos da sua
passagem, designadamente a consagração da pequena capela em
honra de Santa Maria, S. Nicolau Confessor e outros santos,
o que se descobriu em 1977. Outros vestígios se encontram
ainda em Longroiva, como sejam uma tampa sepulcral com uma
cruz de Cristo esculpida e uma espada, encontradas junto à
capela, e uma outra cruz de Cristo no antigo Tribunal e
Cadeia. Na fachada poente da torre de menagem do Castelo de
Longroiva encontra-se também, actualmente, uma inscrição
latina que, traduzida, diz o seguinte: "Na era de César de
1214 (ou seja no ano de 1176 da era de Cristo) Gualdim,
chefe dos cavaleiros portugueses do templo, edificou esta
torre com os seus soldados, reinando Afonso, rei de
Portugal."
O Castelo de Longroiva está
situado no ponto mais alto do antigo castro de Longobriga.
Hoje conserva um pedaço da cerca, que foi fechado no século
XIX para servir de cemitério, e ainda restos da barbacã, que
faz parte do reduto mais primitivo da fortaleza, anterior a
1176.
Para além do castelo, que sofreu
beneficiação recente ao nível da iluminação e embelezamento,
Longroiva possui um notável património cultural construído:
o solar dos marqueses de Roriz, adaptado a turismo de
habitação, a capela da Senhora do Torrão, a Fonte da
Concelha, a Fonte Nova, a Igreja Matriz, dedicada a Santa
Maria, a estrada nomana (para Astorga e Caliábria), a forca,
sepulturas antropomórficas e moinhos de água.
A Igreja Matriz, de origem
românica, sofreu alterações várias ao longo do tempo,
especialmente no século XVII. Os altares são de talha
dourada, ao gosto da época barroca e os tectos da capela mór
contêm pinturas do mesmo século representando a Ceia; no
corpo da Igreja, outras representam a Virgem e a Cruz da
Comenda da Ordem de Cristo. O último restauro data de 1941,
na sequência de um ciclone que provocou grandes prejuízos em
toda a região. A Igreja possui valores artísticos de
excepcional valor, entre eles uma salva de cobre de
Nuremberga, do século XVI, oferecida por D. Manuel I, e uma
imagem de Cristo também do mesmo século. Tem uma torre
sineira construída na década de 1950 com as pedras de uma
outra que ruiu. A Igreja forma, com a capela da Senhora do
torrão e o castelo, um conjunto inolvidável.
Por alguma razão se se dão
louvores a esta ridente localidade quando se canta:
Há três coisas em Longroiva
que bem empregadas são:
são os sinos e as águas
e a Senhora do Torrão.
Não se tem por definitivo que
Longroiva tenha recebido dois forais, não obstante se
afirmar que o primeiro, dado por D. Teresa, mãe de D. Afonso
Henriques, teria sido concedido em 1124 e confirmado em 1220
por D. Afonso II, e outro pelo braganção D. Fernão Mendes,
na altura da doação aos templários. Certo, porém, é o foral
"novo" dado a Longroiva por D. Manuel I, em 1 de Junho de
1510, do qual foram feitos três exemplares, um dos quais se
encontra actualmente arquivado na Câmara Municipal da Meda.
Quando se visita ou quando
deixamos a bela povoação de Longroiva, harmoniosamente
adoçada ao conjunto referido, ficamos com a sensação de
estarmos a contemplar um dos mais bonitos presépios que
algum artista poderia conceber. O casario branco alonga-se
na encosta poente do monte, ao longo de pequenas ruas
medievais, de forma compacta e que vão confluir no Largo da
Praça onde se localiza a antiga Câmara e o pelourinho.
Inolvidável. Aliás, Longroiva é uma povoação onde se vive
dignamente, constituindo uma das jóias mais preciosas que
adorna o concelho da Meda e de que este se pode orgulhar.
Bibliografia:
Rodrigues, Adriano Vasco -
"Terras da Meda - Natureza e Cultura" - 1983;
Saraiva, Jorge António Lima - "O
Concelho de Meda - 1838-1999" - 1999. |