D.
Sancho I, não foi fundador da Guarda, mas sim seu repovoador e
protector, pois além de lhe conceder o
1º
foral elevando-a à categoria de cidade, conseguiu também que
a Diocese Egitaniense, fosse transferida da Idanha, para a
Guarda.
Por consequência foi fundador da
Guarda como cidade e como sede de Diocese, mas não como
povoação, pois existem provas que muitos anos antes de fundada a
nacionalidade Portuguesa já a Guarda e seus subúrbios eram
habitados.
O
1º
foral da Guarda, classificado como salamantino ou perfeito,
foi concedido por EI-Rei o Povoador, em 26 de Novembro de 1199.
Igualmente a pedido de D. Sancho
I o Papa Inocêncio III, elevou a Guarda às honras de cidade
episcopal, sendo nomeado seu 1º Bispo D. Martinho Pais, cónego
de Santa Cruz de Coimbra, em 1203.
Segundo refere Quelhas Bigote,
no "Culto a Nossa Senhora na Diocese da Guarda" até à conclusão
das obras da 1ª catedral, aí por 1214, o Bispo e cabido devem
ter residido em Penamacor.
Investigadores, como Pinho Leal,
General João de Almeida, Adriano Vasco Rodrigues, Virgílio
Afonso e outros têm apresentado opiniões divergentes quanto à
fundação da Guarda.
Enquanto o maior numero de
investigadores se preocupa em demonstrar, baseando-se em dados
arqueológicos, que a Guarda é de fundação muito anterior à
nacionalidade, outros argumentam que ela foi fundada por D.
Sancho I.
Diz o General João de Almeida em
"A Guarda Capital da Beira". "Quando Júlio César foi nomeado
pretor da Lusitânia, havia mais de 200 anos que os romanos em
vão pensavam tornar efectivo o seu domínio na região dos
Hermínios. Com alternativas várias e consoante os chefes, o seu
domínio alcançava penetrar nesses maciços montanhosos e receber
o acatamento dos seus povos.
Aquele grande chefe romano,
partindo de Mérida, atravessa o Tejo em Alcântara e sobe às
alturas da Guarda e mercê ainda duma cilada, consegue cercar e
vencer os vetões, a tribo mais forte e culta dos lusitanos, nas
margens do Mondego, no sítio que para consagração do feito,
ainda hoje se chama a Ratoeira.
E reconhecendo à Guarda todo
o valor da sua posição e para garantir a posse da sua região,
acampa nela uma das suas legiões, dando-lhe o nome de Lancia
Opidana, e manda proceder à construção de duas grandes estradas,
uma que saindo de Mérida por Alcântara na margem do Tejo, subia
à Lancia Opidana; e dali seguindo para norte, atravessa o Douro
em Numão, e se bifurcava, indo um ramal terminar em Braga e
outro em Astorga; a outra que saindo de Coimbra, vinha a
Celorico, subia à Guarda; e dali por Opidania (Verdugal) e
Mirobriga (Cidade de Rodrigo) ia terminar em Salamântica
(Salamanca) ".
(Mais adiante refere o mesmo
autor na mesma obra: "Depois passados séculos, vêm os
barbados, constituindo o reino Suevo-Alano, abrangendo toda a
primitiva Lusitânia dos tempos de Augusto, A Vetónia subsiste
como província e com sua capital em Lancia Opidana, agora
designada por Warda (Guarda)" .
Em referência à antiguidade da
Guarda, diz Fr. Agostinho de Santa Maria no seu " Santuário
Mariano" ela não foi só grande povoação em tempo dos godos, mas
já seria grande no tempo dos romanos".
É sabido que à dominação dos
Godos sobreveio a dos Árabes que assolam a região dos Hermínios,
indo os seus habitantes refugiar-se nos pontos mais altos das
suas montanhas, onde vivem à sombra protectora dos seus castros
e citânias.
Diz o historiador, investigador
e etnógrafo Virgílio Afonso, no seu livro "A
Guarda e os Amores da Ribeirinha":
"Ora os "castros" eram
fortificações que os antigos povos (especialmente celtas,
lusitanos e romanos) construíram em lugares elevados, formando à
sua volta as suas casas circulares, protegidas por fossos ou
cursos de água e outros sistemas defensivos. Muitas ruínas
desses " castros " se identificam no concelho da Guarda, e assim
temos o Tintinolho para os lados do rio Mondego (proximidades de
Cavadoude, vigiando os castelos da Guarda e de Celorico da
Beira); os Castelos Velhos, junto à Póvoa do Mileu
(sobranceiro); Tins e Picoto, na zona de Mondego e Sobral da
Serra; o Forte Velho, a primeira fortaleza da Guarda, antes de
existir o castelo de D. Sancho II o Jarmelo, com ruínas de
muralhas lusitanas e romanas, e ainda os pequenos castelos do
Alvendre, de Avelãs de Ambom, Codeceiro, Rochoso, Arrifana, Vila
Fernando e Maçaínhas e o "castro" do Caldeirão".
Ainda a propósito da antiguidade
da Guarda refere o eminente arqueólogo Dr. Adriano Vasco
Rodrigues, no volume " Monografia Artística da Cidade da Guarda
".
"Carlos de Oliveira nega, na
região, quaisquer vestígios de romanização. Contudo eles
existiam j visíveis em 1941 e 1942, data em que este autor
escreveu os sete artigos para a " Altitude ". Refiro-me às vias
romanas, das quais aqui existem vestígios. O principal é o
daquela que saindo de Mérida, seguia até Astorga. Outro
testemunho de romanização, apontado por João de Almeida, é o do
aparecimento de cerca de 300 denários republicanos encerrados
num vaso de barro dentro de uma mina explorada pelos romanos, na
vizinha povoação de Menoita. Destes denários expõe o
Museu Regional mais de uma centena.
Contudo, provas de
romanização, patentes em numerosos achados arqueológicos, têm
sido descobertas nos últimos dez anos, dos quais os mais
importantes foram os do Mileu, cerca da capela românica, quando
abriam uma estrada. Estas provas acidentais foram conservadas
mercê do interesse que passou a existir na cidade pelo problema
da sua origem.
Entretanto, foram, também
aparecendo testemunhos suvicos e visigóticos (trientes) alguns
no Tintinolho e outros nos Castelos Velhos, perto da cidade. São
testemunhas de romanização o aparecimento duma cabeça votiva de
ninfa, na Fonte da Senhora dos Remédios, e os marcos miliários,
dedicado um ao imperador Tácito, junto da chamada estrada de
Herodes e o outro de Constantino, possivelmente a via romana que
ia de Braga a Mérida, os quais estão depositadas no
Museu Regional".
Refere ainda Adriano Vasco
Rodrigues, no jornal "A Guarda" de 24 de Maio de 1957. -
"Comprova-se agora que D. Sancho apenas aproveitou um local já
conhecido e talvez ainda habitado no seu tempo. Nas obras de
alargamento da área do Liceu e
Sé
acaba de aparecer um túmulo romano (tipo cista), escavado no
saibro. Este túmulo continha mais de uma dezena de vasos ciner
rios e corresponde, possivelmente aos fins do séc. III,
princípios do século IV em que se praticava a cremação. Nos
vasos apareceram várias formas romanas muito curiosas.
Além dos vasos para guardar
as cinzas do cadáver, há vasos para essências e um fragmento em
vidro de um vaso lacrimogénio.
Os funerais romanos eram
acompanhados por carpideiras. Estas carpideiras vertiam as
lágrimas em pequenos vasos tubulares de vidro. Conforme a
quantidade de líquido contido no tubo, assim recebiam a esmola
da família do morto.
Todos estes vasos se
encontram em exposição no
Museu Regional, onde podem ser visitados pelos
interessados".
Dos remotíssimos tempos o
paleolítico apresenta a região de diversos vestígios. É o caso
dos fipenes acheulenses, um do Rio Diz e outro de Cairrão.
Vestígios dolménicos abundam:
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