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LINHARES |
Situa-se num cabeço em contraforte a Noroeste
da Serra da Estrela, a cerca de 820 m de altitude dominando o
vale do Mondego.
Foi provável a fundação do castelo pelos
Túrdulos, cerca de 580 a.C., passando posteriormente por
Visigodos, Romanos e tendo sido destruído pelos Mouros no séc.
VIII.
Em 900 foi reconquistado e reconstruído por
D. Afonso III de Leão e, posteriormente, reedificado por D.
Dinis. No séc. XVII foi feita a instalação do relógio na torre.
É um castelo românico-gótico de planta
irregular constituído por dois recintos muralhados fechados. As
muralhas assentam em maciços rochosos.
O recinto do lado Oeste, de maior perímetro,
corresponde à Cidadela.
Apresenta duas torres: a Torre de Menagem e a
Torre do Relógio, a Este.
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A
origem da povoação remonta provavelmente a 580-500 a.C. e terá
sido fundada pelos Túrdulos (povo que habitava a Bética, hoje
Andaluzia). Posteriormente, Linhares foi conquistada pelos
Romanos e ter-se-à chamado Lénio ou Leniobriga. O próprio
vocabulário indica, através de sufixo briga, a existência
provável de uma povoação fortificada no alto de um monte. Entre
o séc. III a.C. e a ocupação romana foi habitada pelos
Lusitanos.
Quando os Romanos conquistaram a Península Ibérica Linhares
Continuou habitada e passou a ser atravessada por uma importante
estrada romana que ligava Emerda (actual Mérida, em Espanha) a
Braccara Augusta (Braga). Restos de estrada romana são ainda bem
visíveis na calçada tão peculiar que existe no meio de nada,
pedras grandes bem polidas, memória de um passado muito distante
. Existe também a ruína de um fórum romano, pequena tribuna
sobrelevada, com um banco ao redor e uma mesa onde se tomavam
decisões comunitárias ou se faziam julgamentos. É uma construção
original e única: o granito, tão característico da região, é
aqui integralmente utilizado. Com a progressiva chegada dos
Bárbaros à Península, Linhares foi marco de cristianização,
tendo-se tornado, com os Visigodos (séc. VI e VII), sede da
Diocese.
Com a invasão muçulmana, que ocorreu após anos de existência
pacífica destas comunidades, tudo se alterou. Viveu-se um clima
de insegurança, com as povoações a voltarem-se sobre si mesmas,
tendo a agricultura como única fonte de subsistência. A Diocese
de Linhares deixou então de existir, tendo passado a sua sede
para Coimbra.
As informações sobre Linhares nessa época contradizem-se: ora a
dão como destruída e arruinada no séc. VIII, ora apresentam o
castelo como tendo origem numa fortificação moura. Há inúmeras
lendas que relacionam Linhares com a presença moura, tal como
histórias de mouras encantadas que permaneceram no imaginário
das suas gentes. Uma das lendas mais citadas respeita à vitória
dos habitantes de Linhares sobre as hostes do chefe muçulmano
Zuzar que ocupava o castelo de Azuzara, próximo de Mangualde.
Este facto terá sido comemorado até ao séc. XVII numa romagem a
uma capela onde existiu o Castelo de Azurara e de onde se
avistava Linhares.
No ano de 900 Afonso Magno, de Leão, recuperou as terras até
Coimbra. Linhares sofreu novo incremento em tempo de paz e era
já de denominação cristã antes da fundação da nacionalidade
portuguesa.
Menos de dois séculos depois, em 1169, D. Afonso Henriques
conquistou definitivamente Linhares aos mouros, integrando-a
numa linha defensiva da região, da qual faziam parte Trancoso e
Celorico da Beira; em Setembro desse mesmo ano concedeu-lhe
foral. O primeiro senhor de Linhares foi o próprio rei: "os
moradores do concelho não teriam outro senhor a não ser o rei ou
seu filho".
No entanto, o período de instabilidade prosseguiu e, segundo a
tradição, no reinado de D. Sancho II, em 1198, a Beira foi
invadida por castelhanos e leoneses que se apoderaram de
Celorico. O seu alcaide Gonçalo Mendes, pediu então auxílio ao
seu irmão Rodrigo Mendes, alcaide de Linhares, ambos filhos do
Alcaide de Castelo Mendo, D. Mendo Mendes. Conta a tradição que
este combate se realizou numa noite de Lua Nova, que iluminou os
combatentes, e que estes, combatendo com bravura, derrotaram o
inimigo. Ainda hoje as bandeiras de Linhares da Beira e Celorico
da Beira ostentam um crescente e cinco estrelas.
Linhares foi doado a D. Isabel, filha bastarda de D. Fernando,
que se casou com D. Afonso, filho bastardo de D. Henrique II de
Castela. Em 1348, o alcaide-mor Martins Afonso de Melo, por
carta régia de D. Fernando, ficou com as rendas e os direitos de
povoação. A sucessão ao trono dividira Portugal, e o alcaide de
Linhares, apesar da oposição de toda a população , entregou o
castelo ao rei de Castela. Linhares conheceu, a partir daquela
época e durante cerca de dois séculos, um período de grande
prosperidade e desenvolvimento económico. D. João I, já aclamado
rei nas Cortes de Coimbra, fez a doação destas terras a Martin
Vasques da Cunha, pela recompensa dos serviços prestados.
Em 17 de Abril de 1411 foi criada a casa senhorial do Infante D.
Henrique, duque de Viseu e senhor Covilhã, a qual abrangia
grande parte da comarca da Beira. Num total de 125 terras, 97
eram henriquinas.
D. Manuel deu Foral Novo a Linhares em 1510. A época de
prosperidade e desenvolvimento económico que se iniciara com a
expansão atingiu o seu apogeu.
Terá existido em Linhares uma colónia de judeus, tendo em conta
os nomes que constam dos processos da Inquisição, como naturais
da região. Dadas as características prováveis das habitações que
serviam para comércio e residência, a judiaria situar-se-ia
próxima do adro da Igreja, na parte superior da povoação, por aí
se realizar uma feira. As habitações têm sinais característicos:
cruzes apostas nos ombrais das portas, datas com referência à
construção das casas, símbolos e outras inscrições. Esta
simbologia encontra-se um pouco por toda a povoação.
D. João III elevou Linhares a condado, tendo sido o primeiro
Conde D. António de Noronha. Existiam duas paróquias na povoação
que crescia e se desenvolvia: a da Nossa Senhora da Assunção,
anteriormente de Santa Maria, que foi crescendo ao gosto das
sucessivas épocas; e a de Santo Isidoro, que também sofreu
transformações e onde, em 1576, foi instituída a Misericórdia,
que teve o seu hospital na Albergaria.
Em 1640, foi extinto o título de Conde de Linhares e os seus
bens confiscados para a coroa por ele ter servido o Rei de
Castela, aquando da dominação Filipina.
D. João IV renovou o título, sendo renovado até ao sexto conde,
apesar do senhorio da Beira ser, desde 1698, umas instituição
patrimonial de segundos filhos dos reis: a casa do infantado. Um
conde de Linhares, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, ocupou cargos
políticos nos reinados de D. Maria I e de D. João VI, tendo
emigrado com a família real para o Brasil.
O aparecimento dos solares, com características eminentemente
barrocas, atesta a prosperidade económica das grandes casa que
foram aparecendo nos séc. XVIII e XIX, hoje já assimiladas pelo
conjunto e coexistindo com ele em perfeita harmonia. Muitas das
actividades eram regidas por conselhos de vizinhos e tinham
carácter comunitário, que ainda hoje se mantêm. No séc. XVIII a
população diminuiu e a povoação declinou.
Durante as Invasões francesas, de 1808 e 1810, Linhares ainda
tinha sob a sua alçada seis concelhos. Em 1820 elegeu um
deputado para as cortes, seguindo-lhe a sua estagnação e
decadência.
O concelho foi extinto em 1842, data em que passou a se apenas
uma freguesia do Concelho de Celorico da Beira. |
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