Sob o
domínio muçulmano, a partir do século VIII, Cacela foi
uma povoação relativamente importante do litoral algarvio. Era
defendida por um castelo e estender-se-ia até à praia,
apresentando um cariz marítimo-agrícola. O seu nome seria
Hisn-Kastala, Qastallat Dararsh, Cacetalate ou
Cacila (prado ou pastagem de gado), donde derivaria o
nome actual. O geógrafo árabe Al-Idrisi, no início do século
XII, dizia estar Cacela bem povoada, nela havendo muitas hortas
e campos de figueiras. Dela era natural o poeta, de origem
berbere, Abu Amer Ahmede ibne Mohamede ibne Darrague Alcacetali
(958-1030), que foi secretário da chancelaria de Almançor.
Em
1240 foi tomada pela primeira vez aos Mouros por D. Sancho II.
Perdida de novo, retomou-a definitivamente D. Paio Peres
Correia, Mestre de Sant'Iago, em 1242. Em 20 de Fevereiro de
1255, D. Afonso III confirmou a
doação à Ordem de Sant'Iago da vila e seu castelo (um
dos sete castelos do escudo de Portugal), sendo Cacela cabeça de
comenda. Em 1272, a ordem de Sant'Iago renuncia a essa doação.
Nessa época,
Portugal e Castela reivindicavam o território algarvio.
Apenas com o tratado de Badajoz de 16 de Fevereiro de
1267 ficou definitivamente legitimada a integração do reino do
Algarve, e consequentemente de Cacela, em Portugal. A fronteira
leste do Algarve apenas ficou definida mais tarde, em 1297, com
o tratado de Alcañices.
D. Dinis concedeu-lhe
foral em 17 de Julho de 1283 e estabeleceu o
concelho de que Cacela era a sede. No concelho estavam
integradas parcelas das actuais freguesias do Azinhal e
Odeleite.
Embora mantendo actividades ligadas ao mar, ter-se-á
verificado ao longo dos tempos a disseminação da população de
Cacela por quintas e fazendas das ricas terras agrícolas que se
estendem até à serra. Esta tendência ter-se-á acentuado
sobretudo a partir da época dos Descobrimentos. O constante
perigo de ataques de corsários terá contribuído também para esse
movimento, adquirindo Cacela um cariz marcadamente rural.
Documento de 1465 refere não haver casas para além do castelo
em que o comendador morava. Desenho de 1617 mostra um núcleo
urbano constituído por fortaleza, igreja, casas do prior, casa
da câmara e pelourinho. Os habitantes viviam fora da vila. De
1621 chega-nos a "Relação
e Traça da Vila de Cacela", de Alexandre Massai.
Com o terramoto de 1 de Novembro de 1755, "na Villa de
Cacela (...) se arruinou a Matriz, a Misericordia,
as Cazas da Camara; e á Fortaleza visinha cairam
os baluartes contanta violencia, que arrojaram á praia os
canhoes montados" [in "Relaçam do terramoto do primeiro
de Novembro do anno de 1755. Com os effeitos, que
particularmente cauzou neste Reino do Algarve"].
A "Carta topográfica dos baldios e terras incultas do termo
da vila de Casella (...) 1775" mostra um núcleo urbano
constituído por igreja, fortaleza, pelourinho,
casas do padre, câmara e cadeia e casas do
governador.
No quadro de uma reforma político-administrativa do Algarve,
a câmara de Cacela é abolida em 12 de Dezembro de 1775
por decreto de D. José I, sendo o seu território unido ao da
recém-criada Vila Real de Santo António. O priorado de Cacela,
com a respectiva comenda, havia já sido transferido para Vila
Real de Santo António no ano anterior. Em 1784 (?) foi criada a
Freguesia de Cacela, por desmembramento da freguesia de
Vila Real de Santo António.
Em 24 de Junho de 1833 deu-se o
desembarque em Cacela, em plena guerra civil, de uma
pequena força liberal de cerca de 2500 homens sob o comando do
duque da Terceira. O desembarque terá tido lugar junto à
Torre Velha (sítio do Alto), no extremo leste da freguesia,
num local aproximadamente equidistante da fortaleza de Cacela e
do antigo forte do Cabeço (Praia Verde). A força liberal após
atravessar todo o Algarve e Alentejo, iludindo o exército
miguelista, entrou triunfante em Lisboa exactamente um mês
depois, em 24 de Julho.
Em 1840, para além da igreja, das ruínas dos antigos paços do
concelho e das residências do pároco e sacristão, o número de
moradias não ia além de seis. No início do presente século, o
número de fogos não ultrapassaria os 20, número que não sofreu
grande alteração até aos dias de hoje.
Emília
Pinto
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