Veiros
povoação muito antiga, que alguns autores afirmam já
existir no tempo dos romanos com a designação de
VALERIUS, caiu em poder de D. Afonso II em 1217,
soberano que auxiliado pelos cavaleiros de Avis, no
mestrado de D. Fernão Anes, expulsou da região os
muçulmanos e a integrou na jurisdição da mesma ordem
militar. D. Lourenço Afonso, IX mestre da milícia, a
consentimento de D. Dinis, em 1308, lhe construiu a
actual fortaleza, ignoramos se assente em castelo
anterior e diminuído, infelizmente, da torre de menagem,
que D. Juan da Áustria dinamitou em 1662. Várias vezes
atacada e incendiada pelos castelhanos, nas duas guerras
da Independência, principalmente em 1381, reinado de D.
Fernando I e na ocupação do marquês de Caracena, em
1665, esteve vinculada aos marqueses de Abrantes e à
comenda dos nobilíssimos Lencastres, condes de Vila Nova
de Portimão.
No castelo nasceu, em 1377, o 1º duque de Bragança, D.
Afonso, filho natural de João I e de D. Inês Pires,
comendadeira de Santos, filha de Pero Esteves, o famoso
e digno lavrador que tentou, estoicamente, lavar a sua
honra e a história cognominou, pitoresca mas
respeitosamente de BARBADÃO.
Teve o foral doado por D. Manuel I, em 2-XI-1510 e
assento em cortes no banco 12º. Antigo concelho
medieval, extinto em 1855, pertence desde 1855, pertence
desde 1895 ao de Estremoz, como simples freguesia rural,
sendo alienadas, então, as primitivas freguesias filiais
de S. Amaro e S. Pedro de Almuro esta de alta
antiguidade, onde têm aparecido, no seu sub-solo,
inúmeros vesígios arqueológicos do domínio romano.
Veiros conta, actualmente, 2.399 habitantes.
Apesar do declínio imposto pela transferência dos
poderes públicos e consequente desvalorização
económico-social, a Vila manteve, felizmente, os seus
valores sacro-sumptuários e os símbolos civis de
arquitectura, representados pelos extintos Paços do
Concelho e Pelourinho, curioso exemplar de mármore
regional, do estilo da Renascença Francesa, datado de
1539 e restaurado em 1739, peça constituída por
coluna-pilar sobrepujado de esfera armilar nascente de
formoso capitel esculpido com anjos e acantos.
No extremo da coroa ocidental do povoado, ergue-se sobre
embasamento roqueiro e disposto em planta sensivelmente
octogonal, a velha cerca dinisiana, construída em
materiais xistosos e de meã altura, rasgada por cubelos
cilíndricos e torres quadradas, onde se rasgavam as
quatro portas orientadas nos clássicos pontos cardiais,
hoje diminuídas da principal, a chamada do SOL, que se
desfez no Séc. XVIII e mantém, apenas, a torrela do
Relógio, que domina o Largo da Igreja Matriz do
Salvador. Este notável templo, que substitui o medieval
do título de Santa Maria Madalena, deveu-se a licença
concedida pelo rei D. Sebastião e homologada pelo
cardeal-infante D. Henrique, em 8 de Junho de 1559,
alvará que nomeou seu construtor o mestre de pedraria
João Álvares. A obra, modelada segundo os alçados e
debuxos originais destinados à colegiada de Santo Antão,
de Évora, teve a sagração, somente, no ano de 1595,
demora motivada, talvez, pelos desastres de Alcácer
Quibir, onde morreu El-Rei e ocupação do reino por
Filipe II de Espanha em 1580. Igreja do tipo de salão e,
planta rectangular, com fachada sóbria, apilastrada e
aberta por opulenta luneta emoldurada e portal de vergas
limonjadas, divide-se em três amplas naves suportadas
por rebustas colunas de tambores marmóreos, de ordem
jónica e abóbada nervurada, guarnecida de bocetes
cilíndricos ornados das cruzes da ordem de S. Bento de
Avis ou de florões singelos da baixa renascença. De
harmoniosas proporções e enobrecida pelo material
construtivo, oferece imponância e agradável sensação de
leveza, em contraste com outros exemplos arquitectónicos
do mesmo estilo e época levantados no Alentejo.
Algumas capelas laterais merecem referência no capítulo
artístico, como a de S. João Batista, situada no outro
lado, que transitou da matriz velha e havia sido fundada
por Vicente Curvo em 1380, e no ano de 1602 foi
melhorada pelos fidalgos Lopo Pereira e D. Inês Pegas,
que nela jazem e ordenaram as pinturas murais de
serafins e ornatos, do tecto artesanato e de retábulo de
madeira, do tipo maneirista, representando o titular. Na
banda do Evangelho, subsiste o mais arcaico retábulo de
talha do edifício, na Capela de S. Brás, com as
características clássicas do tempo da sagração da
matriz, embora os fundamentos remontassem ao ano de
1406, devidos a D. Lourença Andreu, mulher de João
Vicente. A cabeceira do templo é constituída por três
altares, dois colaterais, de pouco mérito concepcional,
e pela capela-mor, que sofreu reparações recentes
(1926). Nela se levanta, com certa majestade, o retábulo
da reforma decretada em tempos de D. João V, obra de
talha barroca do período decadente de quatro fustes
salomónicos e capitelação compósita, axialmente composto
por grande tabela dourada.
Notável agrupamento de epigrafia sobre o pavimento das
neves, onde são figuras gradas guerreiros das gestas
lusitanas, muito da ordem de Avis, valorizados por
pomposos escudos de armas e paquifes barrocos. Contíguo
ao presbitério, rasga-se o santuário tumular de Santa
Isabel, onde jaz em sumptuoso mausoléu de estatua
jacente o coudel-mor de D. João V, D. Diogo Galvão
Pegado Coutinho Freire de Andrade Soares de Albergaria
Galhardo Barreto da Ponte Cabral Ferreira de Câmara
Velho e Mendonça, seu fundador em 1740, e os
antepassados, fidalgos ilustres da região. No recinto
envolvente do adro da matriz, formando conjunto algo
interessante da arquitectura religiosa, em desencontro
de linhas irregulares, pitorescas e populistas,
levantando-se os templetes da Misericórdia (com as
dependências da Santa Casa), e o de Nª Sª da Conceição,
que pertenceu ao desaparecido paço dos capitães-mores da
Vila, actual Asilo de Infância Desvalida. Construções
barrocas de carácter seiscentista, a primeira remonta,
nas suas origens, ao Séc. XVI, sendo panteão dos
descendentes do Mestre de Alcântra Monroy, em Castela,
que se haviam fixado em Portugal no tempo de D. Afonso
V, e do corregedor da corte filipina Luis Serrão Lobo,
que reformou a capela-mor no ano de 1607. Tem retábulo
de mármores coloridos, esculpido no estilo coríntio (2ª
metade do Séc. XVIII).
De profundo sentido religioso, poético e lendário é a
ermida de Nª Senhora de Mileu, situada no extremo
setentrional da Vila, cujos os fundamentos,
antiquíssimos, estão envolvidos por tradições
fantásticas e onde se recolheram as ossadas dos
descendentes do Barbadão. Reformada integralmente 1788,
mantém a estrutura artística desse período e, embebida
na fachada, uma lápide sepulcral romana: o interior,
singelo, de uma só nave, que esteve recoberto de
pinturas murais, é valorizado pelo retábulo da
capela-mor, trabalho de estuques amosaicados de arte
neoclássica. Mais antiga e já citada pelo cronista do
Santuário Mariano, Fr. Agostinho de Santa Maria, é a
venerável imagem padroeira, de roca, e véstias de rica
tecelagem bordada. As restantes igrejas do arco Veirense
assinalam um passado florescente no domínio da fé:
perdidas as de SANTIAGO e S. SEBASTIÃO, subsistem as de
SANTA CATARINA, SANTO ANTÃO-O-NOVO e Nª SENHORA DOS
REMÉDIOS. Esta, obra barroca de alvores do Séc. XVII,
com interior muito amplo, nave de abóbada de meio
canhão, distribuiu-se em planta rectangular e alçados de
três tramos de arcos falsos, apilastrados, denunciando,
subjacente, pinturas fresquitas onde se distinguem os 4
Evangelistas.
SANTA CATARINA, vestígio gótico de princípios de
quinhentos, encerrada em penhascos fragosos que dominam,
em paisagem agreste, alcantilada mas bucólica, a ribeira
de Veiros, conserva a ábside primitiva, de tecto
nervurado e mísulas rudemente lavradas. Da profana
ermida do ESPÍRITO SANTO, que teve irmandade fundada no
Séc. XV, conservam-se afortunadamente, na cobertura do
Santuário , dois painéis murais moldurados com ornatos
barrocos, representando a ADORAÇÃO DOS REIS MAGOS e a
FUGA PARA O EGIPTO (Séc. XVII).
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