Castelo de Ouguela

Pormenor da
Muralha |

Vista
Exterior da Muralha |

Ponte de
Acesso à Entrada do Castelo |
É povoação muito antiga, que veio à coroa de
Portugal no reinado de D. Dinis, em 1297
(tratado de Alcanizes). D. Dinis deu-lhe foral,
com muitos privilégios, por carta de Lisboa, de
5-1-1298.
D. Manuel concedeu-lhe foral novo, também em
Lisboa. a 01-06-15l2. Eram seus donatários os
Cunhas, senhores de Tábua. e a freguesia tinha o
título de priorado. da apresentação alternada da
Santa Sé e do bispo de Elvas.
A vila está situada no alto de um monte muito
escarpado, na margem esquerda da ribeira de
Abrilongo, e perto da confluência desta ribeira
com o Távora, nas proximidades da raia.
A sua situação anda glosada numa quadra popular
regional, onde te lhe chama cidade: «Bela
cidade de Ouguela / Dá vistas à
Lafargueira; / Mal empregada cidade /
Estar em tão alta ladeira».
Teve Ouguela um importante castelo. de
que restam apenas alguns panos de muralhas e
torreões. (modernamente reconstruídos), que se
deve a D. Dinis. Data de 1300.
Junto à igreja matriz brota uma fonte de águas
minerais, frias, gasosas, de composição mal
determinada, mas aplicadas nas doenças do
estômago, hidropisias, ténia., etc. A esta fonte
se refere o Aquilégio Medicinal, de Fonseca
Henriques: «Na villa de Ouguella (...) ha
huma fonte de que bebe a mayor parte dos
moradores, a que chamão Fonte Velha, da qual te
diz, que não cria cousa viva, e que mata todo o
bicho vivo, que nella se lança. Usão desta agora
para matar as sanguexugas que entrão no corpo, e
para as lombrigas...».
Em 1475. por ocasião da batalha de Toro,
encontraram-se perto desta vila João da Silva,
alcaide-mor, e João Fernandes Galindo,
alcaide-mor de Albuquerque, em Espanha.
Ambos morreram dos ferimentos recebidos no
recontro, o segundo no próprio local, e João da
Silva 28 dias depois. Em 1551 Diogo da Silva,
neto do alcaide-mor de Ouguela, mandou colocar
uma cruz no local do combate. Encontra-se hoje
no museu de Elvas.
Aquando das guerras da Restauração, o exército
espanhol, comandado pelo marquês de Torrecluso,
invadiu Portugal pelo Alentejo. Para o coadjuvar
na empresa de tomar Ouguela, ofereceu-se. ao
espanhol, João Rodrigues de Oliveira, governador
de Vilar de Rei e que no Brasil deu mostras de
grande valor como soldado, atingindo o posto de
sargento-mor. Regressado a Portugal, após a
aclamação de D. João IV, passou ao Alentejo, de
onde fugiu para os espanhóis, recebendo, em
recompensa, o posto de mestre de campo e o cargo
de governador de Vilar de Rei. Pensando em
conquistar Ouguela para o partido onde se tinha
filiado, após as mercês recebidas do rei de
Portugal, marchou em direcção à praça
portuguesa, acompanhado de seiscentos cavalos e
outros tantos infantes escolhidos na noite de
Sábado, que se contaram nove do presente mês
(Abril de 1644) e para este efeito partiu com
eles de Vilar de Rei na calada da noite propicia
a seu deslgnio».
Por Castela andavam os Portugueses pilhando o
gado para alimento das tropas defensoras da
independência. Quatro de Campo Maior, vendo as
tropas inimigas em marcha, esconderam-se e,
quando a retaguarda passava junto deles,
misturaram-se-lhe, ouvindo da boca dos invasores
os seus planos. Tomando por veredas, chegaram a
Ouguela duas horas mais cedo do que o inimigo e,
avisando o governador, Pascoal da Costa, este
organizou a defesa da praça e com tal denodo se
houve que não valeram os petardos que os
Espanhóis fizeram rebentar junto das portas do
castelo, nem as promessas que João Rodrigues de
Oliveira fizera ao sitiado, que tinha sido cabo
de esquadra e servido sob as suas ordens no
Brasil. Na defesa de Ouguela portaram-se com
valentia, não só o minguado número de soldados
da guarnição, como os habitantes da vila e entre
eles uma mulher, de nome Isabel Pereira, que
obrou prodígios, «quer pelejando nas
trincheiras, como repartindo pólvora e balas aos
soldados; e retirada ao castelo ficou
desacordada por algum espaço com a ferida que
lhe deram, até que tornando em si, e vendo que
não era perigosa, prosseguiu a pelejar com
maiores brios até o fim».
Em 1762 o capitão de cavalaria Brás de Carvalho,
defendeu-se heroicamente em Ouguela de um ataque
dos Espanhóis.
Cronologia:
Período romano - terá sido romanizada com a
designação de Budua;
período visigótico - terá tido a designação de
Niguela;
1230, após - conquista definitiva aos mouros,
provavelmente por tropas castelhanas e leonesas;
1255, 28 de Maio - os homens-bons do concelho de
Badajoz doam Ouguela e outras localidades ao
Cabido e ao Bispo de Badajoz;
1270, 25 de Junho - a justiça em Campo Maior e
Ouguela passa a ser exercida por juizes régios e
não pelo bispado de Badajoz;
1297, 12 de Setembro - passa a integrar o
domínio português pelo Tratado de Alcanizes;
1298 - foral de D. Dinis;
reinado de Dinis - reedificação; Guerra da
Independência - toma partido por Castela;
1392 - cortam-se os laços de dependência
eclesiástica relativamente ao Bispado de
Badajoz;
1420, 7 de Dezembro - D. João I transforma a
vila em couto de homiziados;
reinados de D. Fernando a D. João I -
reedificada e ampliada a cerca de muralhas;
edificação da primitiva igreja, orientada,
situada sensivelmente no centro da praça;
1509 - 1515 - desenhada por Duarte d'Armas;
1512 - foral de D. Manuel I;
Séc. XVII - início da construção da fortaleza
abaluartada com a participação de Nicolau de
Langres;
já construídas no interior da Praça as casas dos
oficiais e famílias dos militares e a Casa da
Câmara;
1644 - o Marquês de Torrecusa tenta conquistar o
castelo que resiste heroicamente sob o comando
do Capitão Pascoal da Costa (proporção de 45
soldados para 1500 cavaleiros e 1000 infantes
pela parte espanhola);
Séc. XVIII - construção da Igreja de Nossa
Senhora da Graça e das casas da governação da
Praça;
1755 - já edificados o baluarte, o meio baluarte
e o revelim;
1762 - resiste aos invasores espanhóis sob o
comando do Cavaleiro Brás de Carvalho; 1799 -
Casa do Governador;
1755 / 1803 - planta e perfil de Ouguela
mostrando a atalaia e a existência de fosso e
estacaria;
Séc. XIX - a área a Oeste, definida pelas
construções abaluartadas, passa a funcionar como
cemitério da povoação; nos inícios do século
existiam ainda as guaritas nos ângulos da 2ª
linha defensiva;
1803 - sob o comando do Marquês de la Reine,
construção, pelo Sargento-Mor de engenharia
Maximiano José da Serra, das lunetas do Cabeço
da Forca e No Mártir;
1828 - projecta-se recuperar uma das torres a S.
do castelo;
1829 - projecta-se a construção de uma meia lua
para protecção da entrada a Este;
1840 - desmilitarização da Praça.
Tipo de Arquitectura:.
O castelo foi edificado nos séculos XIII /
XVIII, à base de granito, xisto, argamassa de
cal, pedra miúda e argila. É detentor de uma
arquitectura militar medieval e moderna. Castelo
estratégico de detenção, em relevo, orientado,
com cubelo de secção ultrasemicircular e
sobreposição de fortaleza abaluartada, rasante.
Exemplo característico das praças fortes
fronteiriças das regiões de planície, com
sistema abaluartado determinado pela artilharia
pirobalística. O grosso das muralhas medievais
foi muito transformado pelas obras setecentistas
que lhe conferiram o perfil actual. Núcleo
habitacional setecentista.
Foi construído no cimo dum outeiro (cota de 259
m), a cerca de 1 km da junção da Ribeira de
Abrilongo ao Rio Xévora e a 3 km da fronteira,
com o castelo de Albuquerque à vista. As
muralhas delimitam mas não contêm a povoação
medieval que extravasa pelas encostas Norte e
Noroeste.
Apenas subsistem alguns panos de muralha e
torreões, além das fortificações seicentistas
com escarpas, parapeitos e revelins.
O castelo é de planta hexagonal irregular,
próxima duma meia elipse com o extremo apontado
a Este; muralhas e torreões rebocados com
embasamento (ou com as sapatas das construções
fundacionais); entrada por torre-porta, a Norte,
constituída por duas torres emparelhadas com
arco de volta perfeita, porta de arco quebrado,
bueira e sistema para grade; a partir desta
entrada e no sentido dos ponteiros do relógio,
temos: muralha, torreão rectangular, muralha,
torreão rectangular de ângulo, muralha, cubelo
de ângulo, muralha, torreão rectangular,
muralha, torreão rectangular, muralha, torreão
rectangular de ângulo, muralha, torre de
menagem, muralha, restos de torreão rectangular
de ângulo a servir de torre sineira. O adarve,
com muretes de protecção de ambos os lados, está
completo. As ameias das torres e muralhas foram
substituídas por barbetas e por canhoeiras
(torre de menagem).
A Fortificação Abaluartada, frente à
torre-porta, possui um meio baluarte com 4
canhoeiras e uma barbeta, apresentando orelhão
direito para protecção da porta da fortaleza.
Esta, armoriada, defendida por casamata com sete
frestas.
No sector Oeste, obra corna de braços compridos
com dois meios baluartes.
A Sul da antiga torre de menagem, um muro com 7
seteiras; no sector Noroeste, a Igreja de Nossa
Senhora da Graça, de fachada em empena, portal
de verga recta moldurada e óculo, evidenciando
técnica construtiva militar, com cobertura
munida de seteiras; uma das torres da cerca foi
aproveitada para torre sineira.
A toda a volta, fosso com reparo de traçado
tenalhado e caminho de ronda.
No interior do castelo, logo à entrada, três
casas com paramentos, molduras e decoração em
trabalhos de massa que alojariam a governação da
Praça; adossadas ou não às muralhas, outras
construções; o casario compreende os antigos
quartéis (a Este junto ao torreão), e as
habitações dos familiares dos militares; algumas
destas construções apresentam os muros de
alvenaria esgrafitados imitando aparelho de
cantaria e vãos de portas e janelas (existem
vestígios da Casa da Câmara que possibilitam a
sua localização, encostada ao interior da
muralha a Oeste, junto à Torre de Menagem e
voltada para o largo, e constatar que teria dois
pisos como a Casa do Governador; as antigas
guaritas, hoje desaparecidas, eram construídas
de alvenaria e tijolo maciço e tinham
planimetria circular (diâmetro inferior a 0,75
m), a torre que protege a porta do castelo tem
vista sobre a fronteira fortificação de
Albuquerque em território espanhol).
Bibliografia:
ALMEIDA, João de, Livro das Fortalezas de
Duarte Damas, Editorial Império, Lda.,
Lisboa, 1943.
GRANDE Enciclopédia Portuguesa e Brasileira,
Volume 19, Editorial Enciclopédia, Lda, Lisboa /
Rio de Janeiro.
Sites da Internet:
Direcção Geral dos Monumentos Nacionais
(www.monumentos.pt)
Desdobráveis de promoção turística
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