Castelo de santa Maria da feira
Quando em meados do séc. IX Afonso III de Leão criou
a região administrativa e militar a que deu o nome
de Terra de
Santa Maria, a sua chefia foi entregue a
uma fortaleza militar ali existente, a
Cívitas
Sanctae
Mariae.
Durante muitos anos esta fortaleza funcionou como
base avançada das tropas da reconquista cristã e
como sentinela contra as invasões árabes vindas do
sul.
Por duas vezes, no ano 1000,
Almansor – o lendário guerreiro árabe –
conquistou o Castelo e arrasou a povoação anexa. E
por duas vezes, também, os guerreiros e habitantes
cristãos reconquistaram a fortaleza, reconstruíram a
povoação e lhe mantiveram o nome de
Civitas
Sancta
Mariae.
Isto atesta bem a coragem e a firmeza das convicções
religiosas daquelas gentes.
·
No reinado de Bermudo
III ( 1028 a 1037) os
guerreiros árabes invadiram de novo esta zona, mas
foram de rechaçados na batalha de
Cesár
numa
povoação que ainda hoje mantém este nome
e está situada nas proximidades do Castelo. Os
governadores de então -
Men Guterres e
Men
Lucídio desenvolveram depois um trabalho
gigantesco para reconstrução do Castelo e
desenvolvimento da Terra de Santa Maria. Por este
facto, os reis leoneses distinguiram uma grande
parte da população com mercês especiais: - a
“Honra de
Infanções”, para se avaliar da
importância deste título, basta recordar que só no
séc. XIV obtiveram idêntico privilégio os “juizes,
almotaceis, corregedores
e vereadores” da cidade de Lisboa.
Na carta régia de 10 de abril
de 1423, que atribuiu estas mercês, alude-se
expressamente ao intento de equiparação aos
“infanções da Terra de Santa Maria”.
·
Durante largos anos, a “Terra de Santa Maria” foi
“terra de fronteira”
com os árabes. Só depois da conquista de Coimbra
(1067) este território deixou de ser “zona de
guerra”. Mas não foi, também, “zona de paz” tal como
sucedia com as povoações a norte do Douro. Depois
daquela conquista de Coimbra, aquele território,
funcionou como o grande
“viveiro”
de cavaleiros e de peões que alimentava a frente
sul. Isto só foi possível, porém, pelo
caracter
permanente da organização militar
instalada na “Terra de
Santa Maria”.
·
Após a morte do conde D. Henrique, senhor do Condado
Portucalense, a viúva, D. Teresa, deixou-se envolver
com um fidalgo galego, Fernão Peres de Trava, ao
serviço do Arcebispo de Compostela D. Diogo
Galmirez, que tinha a
intenção de submeter ao controle da Galiza o Condado
Portucalense. Como guarda avançada, tinham vindo
para o Condado, especialmente para o Porto – onde
Fernão de Trava governava já – grandes migrações
galegas. Com o tempo, a pequena burguesia
portucalense começou a ser substituída por gentes da
Galiza. Mais tarde, o ataque económico e
administrativo estendeu-se aos grandes senhores de
terras e de poder, quer a norte, quer a sul do
Douro. Assim sucedeu às famílias Moniz, de
Riba Douro (Ermígio,
Mendo e Egas), Sousas
(da Maia), Nuno Soares (de Grijó) e à família de
Pero Gonçalves (de
Marnel). Estas famílias,
que tinham vastas propriedades quer no Alto Minho,
Lamego, quer na Terra de Santa Maria, foram sendo
confrontadas com a ameaça de perderem
tudo-
cargos, prestígio, e bens – por intervenção de uma
campanha orquestrada do exterior, primeiramente
subtil e, depois frontal.
Dentro destas famílias notáveis, é justo destacar
dois nomes:
Ermígio
Moniz e Pero Gonçalves
do Marnel.
O primeiro,
ao tempo de revolta dos barões portucalenses, era
alcaide do Castelo de Neiva. Antes tinha sido
afastado do governo da Terra de Santa Maria e da
alcaidaria do Castelo.
Figura muito próxima do Infante D. Afonso, era irmão
do célebre Egas Moniz, que também tinha sido
afastado da Terra de Lamego.
O segundo,
Pero Gonçalves de
Marnel, tinha sido
substituído no governo de Coimbra pelo próprio
Fernão Peres de Trava. Ao tempo da revolta
(1127/1128) era governador da Terra de Santa Maria e
alcaide do Castelo do mesmo nome.
O galego Fernão Peres de Trava ocupava assim o
governo dos dois pólos fundamentais do Condado
Portucalense – o de Portucale
e de Coimbra.
Uma hora houve em que estas famílias resolveram
juntar-se e revoltar-se. A este movimento de revolta
esteve ligado o Infante D. Afonso que, também, não
via com bons olhos a situação da mãe e que começava
a temer pelo futuro que lhe estava a ser reservado.
Ele, que, ao tomar a iniciativa de se armar
cavaleiro, por
si próprio, em Zamora, estava a usar de
uma prerrogativa reservada somente aos filhos de
reis...
Com o poderio da sua força militar organizada, com o
apoio da pujança da sua vida económica e com o
estímulo do sentimento de independência de que já
desfrutavam, os homens de Santa Maria avançaram para
Guimarães – então capital do poder político – e onde
o Infante D. Afonso se encontrava já a mobilizar as
gentes daqueles sítios.
Ermígio
Moniz, a norte do Douro e a partir do Castelo de
Neiva, para lá se dirigiu também com as suas forças.
Para a mesma cidade de Guimarães convergira Fernão
Peres de Trava com as tropas de Coimbra, apoiado com
o reforço das forças galegas que a ele se juntaram
no Castelo de Lanhoso.
Em 13 de Junho de 1128 as tropas galegas foram
vencidas. Esta batalha -
indiscutível marco da história pátria - não foi,
pois, a causa
da nossa independência, mas a
consequência
de um movimento independentista de
caracter colectivo e
abrangendo uma grande área do Condado quer a norte
quer a sul do Douro. A tentativa, por parte da
Galiza de extinguir rapidamente o movimento
independentista latente acabou por precipitar a
mesma independência.
Neste movimento militar intervieram, pois, com
indiscutível influência dois
personagens fortemente ligados à Terra e ao
Castelo de Santa Maria: Pero
Gonçalves de Marnel e
Ermígio Moniz.
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